sexta-feira, maio 30, 2008

Voltemos às causas

Para onde vamos nós? Não estou a referir-me apenas às eleições no Partido Social-Democrata. São muito importantes mas – excepção feita ao que transporta uma das candidaturas – na minha opinião, a sobrevivência e intervenção do Partido, enquanto referencial democrático, estão asseguradas. Se pode existir uma surpresa? Pode. O PSD até é dado a surpresas, umas melhores do que outras (aliás, algumas das piores até o deixaram maltratado).

A verdade é que a massa crítica no PSD é tanta, está tão para além de vendedores e cobradores de promessas que vai, e perfeitamente, re-estruturar-se.

Exceptuo deste cenário a candidatura de Pedro Santana Lopes, cujo mandato no País e no executivo autárquico não deixou de se repercutir no último mandato do PSD em Lisboa: é só lembrar quantos dos casos mais ‘mediatizados’ vieram desse tempo, com as habituais desestruturações.

O ponto para mim nunca são as pessoas, mas o que representam e fazem. Aparentemente, Santana Lopes não gosta nem esquece recusas. Isso é curioso. Há quem esqueça no mesmo minuto. Não pensei, por isso, na sua ‘reserva’, até ao apelo persecutório que fez ontem. Não tem importância, mas explica. Lamento, mas nunca personalizo ou diabolizo. Ninguém que de há muito está bem de si para si o faz. Difícil de compreender? Provavelmente. Mas basta ser o que se é para além de tudo o resto. Chega muito bem.

Depois destas eleições internas é importante reconstituir estes últimos tempos. A começar em 2005. Para que haja memória. Para que não aconteça nunca mais.

Agora, num contexto de aprofundamento de uma crise mundial, é urgente que se reintroduza as causas. As boas e velhas causas.

As causas, aquelas que foram tão maltratadas durante tanto tempo, mas que são a nossa natureza (ou antinatureza, no caso de alguns). Sem isso, já não se moverá ninguém pelos bons motivos. O discurso anda pouco exigente. O pragmatismo inconsequente navega à vista.

(Re)introduzam-se as causas no discurso e sobretudo na prática política. Custa ver tanto desnorte em época de reestruturação de sistemas. São épocas em que o caminho se vê e se faz. Volte-se ao que é bem e tenha-se presente o que é mal, recuse-se esta gelatinosa aceitação da ditadura do mais ou menos.

Nenhuma crise estrutural se resolve só com pragmatismo, pois este, sem causas, nunca foi sequer capaz de adivinhar crise alguma.


Paula Teixeira da Cruz


In Correio da Manhã

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