quinta-feira, maio 15, 2008

FEIRA DO LIVRO

CML suspende montagem da Feira do Livro e editores arriscam perder subsídio-15.05.2008, Ana Henriques-PUBLICO

Francisco José Viegas critica autarquia por esta ter "tomado partido" na questão.
APEL impediu montagem de stands do grupo Leya no Parque Eduardo VII

A Câmara de Lisboa suspendeu ontem, à hora de almoço, a montagem dos pavilhões da Feira do Livro no Parque Eduardo VII. A uma semana da data prevista para o arranque do evento, a autarquia equaciona a possibilidade de cancelar o subsídio que ia entregar à Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) para a realização da feira.
Na origem do imbróglio continua o facto de o grupo editorial Leya, de Pais do Amaral, querer participar na feira com pavilhões diferenciados. A Câmara de Lisboa autoriza-os, mas a APEL, à qual a autarquia emprestou o Parque para a realização do evento, insiste em que as editoras que compõem a Leya - D. Quixote e Caminho, entre outras - se instalem nas tradicionais barraquinhas. Uma empresa contratada para montar no Parque os pavilhões diferenciados da Leya foi, anteontem, impedida de o fazer pela APEL.
Ontem foi a vez de o presidente do município, António Costa, dizer na reunião de câmara que esta associação tinha violado um acordo verbal com a autarquia, mediante o qual se tinha comprometido a aceitar stands diferenciados em troca da câmara lhe entregar o recinto a si e não à sua rival União de Editores Portugueses (UEP). Apesar de ter tentado desvalorizar a feira, o autarca continua empenhado em resolver o imbróglio. Para suspender a montagem dos pavilhões, o município alegou que a APEL não lhes havia entregue o layout final da sua implantação - o que acabou por acontecer ontem ao final da tarde. Os serviços camarários irão agora apreciar este pedido, entregue numa altura em que a montagem dos stands decorre há semanas. A sua aprovação não impedirá, de qualquer forma, uma eventual decisão política de retirada do estatuto de interesse público da feira e do respectivo subsídio, baseada no facto de a Leya representar a maioria dos grandes escritores portugueses vivos.
"Tudo o que está a acontecer era previsível", observa o romancista e director da revista Ler Francisco José Viegas, que há um ano esteve presente, enquanto responsável pela Casa Fernando Pessoa, nas negociações entre a autarquia e as duas facções em confronto, APEL e UEP. "Tive de lhes dizer que ou se entendiam ou não havia subsídio nem feira para ninguém", relata, criticando ao mesmo tempo o facto de a autarquia ter, este ano, "tomado partido" na questão - primeiro por uns, mais tarde por outros. Francisco José Viegas defende que sejam os livreiros e não os editores a organizar o evento, uma vez que é a eles que compete a venda dos livros durante todo o ano. De visita a Jerusalém, Lídia Jorge não está a acompanhar o assunto, mas ainda assim mostra-se preocupada: "É uma triste notícia. Imagine o que é se não houver Feira do Livro..." Já Margarida Rebelo Pinto, que publica numa editora recentemente comprada pelo grupo Leya, não tem dúvidas: "Os pavilhões devem ser iguais para todos os editores, dos mais pequenos aos maiores".
"Estarei presente na feira, mesmo que a Asa, a D. Quixote, a Oficina do Livro, a Teorema [todas do grupo Leya] não possam comparecer", escreveu por seu turno Rui Zink na caixa de comentários dos leitores do site do PÚBLICO. "Não me importo de autografar obras de Saramago, Lobo Antunes, Mário de Carvalho, Lídia Jorge, Mia Couto [autores publicados por editoras daquele grupo], pessoas que muito estimo e decerto me agradecerão, embora não precisem, tal disponibilidade".
Um comunicado posto a circular ontem pela Gradiva deixa no ar uma ameaça: algumas editoras poderão pedir indemnizações em tribunal, no caso de a feira não se realizar ou ir para a frente em moldes que consideram serem-lhes prejudiciais.
(ISABEL G)

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