sábado, julho 14, 2007


"(...) E, no entanto, doze escolhas chegam para traçar um bom caleidoscópio dos imaginários que podem povoar a capital. E, assim, obter uma espécie de "livro de bordo", para roubar a expressão a José Cardoso Pires, esse escritor que foi recriando a sua Lísbia a cada livro, como Cesário Verde o fez em tanto poema.
Há uma Lisboa-memória. Os volumes em livro de Lisboa Desaparecida, de Marina Tavares Dias, ou o Dicionário de História de Lisboa, coordenado por Francisco Santana e Eduardo Sucena, são apenas dois exemplos da vasta bibliografia olissiponense.
E, assim como há uma Lisboa-lendária, a da cidade fundada por Ulisses, esse herói que Homero imortalizou na Odisseia, também há uma Lisboa-ironia, pois escolher A Divina Comédia, de Dante, é assumir que a capital está cheia de Mefistófeles. Podia também falar-se num Lisboa- -olhar estrangeiro, com uma escolha sempre a multiplicar-se.
E há, pelo menos, umas três Lisboas-Amália. A Amália-poema, de Alexandre O'Neill (Gaivota) e de David Mourão-Ferreira (Maria Lisboa); a Amália-melodia (do compositor Alain Oulman); a Amália-popular (Cheira a Lisboa surgiu no teatro de revista e na voz de Anita Guerreiro).
(...)
E a "cidade branca", como a baptizou o realizador suíço Alain Tanner, é também Lisboa-cinema. A preto e branco, capaz de encantar gerações portuguesas, como no filme de Cottinelli Telmo, A Canção de Lisboa. A cores e cheia de sons, para além da música dos Madredeus, como a conhece o mundo cinéfilo que aprecia Wim Wenders, o autor de Lisbon Story.
(...)
Numa cidade tão bem descrita na literatura, de Fernão Lopes a Lobo Antunes, não poderia faltar a Lisboa-romance, de que é exemplo Um Milagre segundo Salomé, de José Rodrigues Miguéis.
E, afinal, quando é que parte para a cidade que até é nome de escritores (Irene Lisboa, Eugénio Lisboa) o avião com a Ingrid Bergman e sem o Humphrey Bogart? A cada um, o seu imaginário. "

Lisboa-poema, Lisboa-me lodia, Lisboa-cinema -Fernando Madaíl no DN
(Maria Isabel G)

1 comentário:

lorenzetti disse...

Continua o incompreensível direito de voto exclusivo em Lisboa dos residentes em Lisboa.

Sendo que residir em Lisboa é cada vez mais raro, como se sabe, relativamente ao número de pessoas que aí vivem todo o dia, porque aí trabalham, estudam, ou porque passam aí quase todo o seu tempo.

Todos aqueles que penam no IC19 ou na autoestrada Cascais-Lisboa ou na Ponte 25 de Abril, Vasco da Gama e afins passam o seu dia em Lisboa.

Muitas vezes mal conhecem o sítio onde vivem, desde os vizinhos a quem é o presidente da Câmara, para não falar no -- nunca soube quem é, nem de que partido é -- presidente da 'junta'.

No entanto, não votam em Lisboa.

A mesma Lisboa onde fazem tudo, onde gastam e ganham dinheiro, que conhecem melhor que o concelho onde vão dormir.

O que leva L. a pensar se os resultados eleitorais em Lisboa não serão injustos, errados e inúteis.

Pelo menos enquanto os universitários e restantes estudantes, e todos os que 'dormem' fora de Lisboa, que trabalham em Lisboa, aqueles cujo BI não diz Lisboa em 'residência', não votarem em Lisboa.

Porque vendo bem, são eles que vivem -- e que são -- a Capital.