quinta-feira, julho 19, 2007

Reflexão sobre os «independentes» de domingo passado


Já começo a ficar farto desta conversa de vários dias sobre a força da cidadania de listas de independentes nas eleições de domingo. Quem fala de «independentes» pode estar enganado nessa visão que considero um tanto ou quanto simplista. Independentes? Vamos por partes.
Primeiro: os candidatos, de onde vieram e para onde irão, o que podem oferecer aos eleitores. Segundo: falemos sobretudo dos eleitores, do que lhes foi oferecido e do que viram nos candidatos alegadamente independentes - essas serão as razões pelas quais votaram nas suas candidaturas.
É uma reflexão que faço aqui, no LL (que gostaria de partilhar consigo). Ali quero apenas exprimir o que penso e provar que Carmona e Roseta não atraíram só nem principalmente os votos da cidadania...

1 comentário:

Anónimo disse...

É verdade que se trata duma dissidência política, mas tal não isenta que 80% dos votantes tenham escolhido PS + PSD (com as dissidências incluídas) nem que a maioria se tenha abstido e se esteja nas tintas para o que está à sua volta.

Nem mesmo para protestar à Saramago - em BRANCO - NÃO! O que o povo quer mesmo é telenovelas e futebol.

Não se pode desculpar o POVO (este dos 80% de votantes nem os dos 62% de abstencionistas). Os restantes 20% que votaram, não poderão assim alterar aquilo que aquela maioria reclama não conseguir, ou não valer a pena.

E retira mesmo a vontade de alterar o que quer que seja. Essa meia dúzia é muitas vezes apedrejada por aqueles que defende.


Para terem ideia fica aqui este texto escrito por Guerra Junqueiro em 1896:

" Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta
(...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)


Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria.


A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;


Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)




Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896



Felizmente, hoje está muito diferente, não está?