Boa tarde,
Sou Tomás Alves, um cidadão que nasceu em Lisboa e que continua a viver por cá.
Esta minha mensagem tem por objectivo dar-lhe a conhecer mais a fundo a situação muito preocupante que, no meu entender e no entender de milhares de Lisboetas, a nossa cidade vive actualmente, no que toca à proliferação descontrolada do graffiti (na sua variante de "tags" e "bombing") nas paredes dos prédios de habitação, monumentos, etc.
Não tenho nada contra o graffiti em si, desde que o mesmo seja feito em locais apropriados para o efeito. Contudo, muitas dezenas de jovens não pensam da mesma maneira que eu e outros tantos habitantes de Lisboa, e é precisamente as acções de vandalismo praticados por tais que me movem a escrever-vos.
Como certamente deve ser do seu conhecimento, Lisboa vive hoje uma inundação de graffiti por praticamente tudo quanto é local, com especial incidência nas zonas da Baixa, Bairro Alto, Bica e outros bairros centrais e históricos. O estado de degradação patrimonial devido à contaminação pelo graffiti salta à vista de todos. É triste constatar o estado a que chegou sobretudo o Bairro Alto e zonas envolventes. Praticamente não há um prédio que não esteja coberto (e muitos estão pesadamente cobertos) de graffiti. É uma autêntica vergonha e um descrédito enorme para uma das zonas mais visitadas em Lisboa pelos turistas.
É confrangedor observar que uma zona tão emblemática da capital esteja neste estado lastimoso. Há ruas inteiras onde não se vê um único prédio em condições – dou como exemplos a Rua da Barroca, a Rua da Rosa, a Rua Diário de Notícias, a Rua da Atalaia, entre outras. Estão todas completamente 'graffitadas', de um extremo ao outro. Para quem, pelos mais diversos motivos, utiliza diariamente o Bairro Alto como meio de passagem, é com amargura que constata a constante destruição de um património que, devidamente limpo, teria todas as condições para acrescentar ainda mais beleza a Lisboa.
Mas não é apenas este bairro que é vandalizado. Senão repare:
Bica – Grande parte das ruas deste típico bairro lisboeta estão, igualmente, muito danificadas com graffiti, nomeadamente a Rua Bica de Duarte Belo (a do elevador) bem como algumas outras ruas transversais a esta.
Zona entre Conde Barão e Cais do Sodré – A esmagadora maioria das ruas que se encontram entre estas duas zonas estão muito danificadas com graffiti e pouco ou nada têm sido intervencionadas nos últimos anos.
Baixa/Chiado – Também aqui se nota uma aglomeração de graffiti fora do normal em certos locais. Nesta situação encontram-se, por exemplo, a Rua Garret, a Rua do Carmo (frequentadas diariamente por habitantes e milhares de turistas) e a zona do Largo do Carmo, que ultimamente tem vindo a ser atacada com cada vez mais frequência. Também na Baixa se notam alguma áreas com focos de muito graffiti, como a Rua da Madalena e as Escadinhas que ligam a Rua da Madalena à Rua dos Fanqueiros.
Igualmente, os elevadores da Carris (sobretudo o da Bica e o da Calçada da Glória) também tem sido alvos constantes de vandalismo, não admirando por isso que muito recentemente a Carris tenha vindo a público dizer que vai colocar câmaras de vigilância nestes espaços, a fim de tentar evitar estes constantes actos de sabotagem. Uma acção sensata mas que peca por tardia, tantas foram as vezes que estes meios de transporte já foram vandalizados!
Muitos exemplos de outros locais no centro de Lisboa poderiam ser aqui indicados. E por favor tome nota que estamos a falar de algumas das zonas mais visitadas pelos turistas na capital, que são precisamente aquelas que são mais atacadas e, paradoxalmente, as que menos recebem acções de limpeza no seu conjunto!
Com tudo o que já mencionei, não se compreende como é que esta situação não se inverte, mas antes, agrava-se de dia para dia. Locais que hoje são limpos voltam a ser graffitados passados 2 ou 3 dias. Para comprovar o que digo dou um exemplo recente.
Em Novembro de 2007 a Divisão de Limpeza Urbana da CML promoveu (e muito bem) uma limpeza de grafitis no troço Rato – Principe Real - Cais do Sodré. Foi feito um bom trabalho e a zona, na sua grande maioria, ainda se mantém limpa. Contudo, constatei pessoalmente que 2 dias depois dessa grande limpeza, uma parte da fachada do Convento na Rua de São Pedro de Alcântara que tinha sido limpa voltou a ser graffitada! Segundo soube, foi preciso pedir um reforço de policiamento à Polícia Municipal para evitar que vândalos estragassem mais do trabalho que tinha sido efectuado neste troço. Portanto, isto ilustra bem aquilo que se tem passado sistematicamente desde há alguns anos para cá.
A vigilância efectuada por parte da Polícia Municipal tem sido claramente insuficiente para lidar com estes casos e atenuar o aparecimento de novos graffitis. A ineficácia policial sobretudo no triângulo Bica – Bairro Alto - Chiado é por demais evidente. A divisão de Limpeza Urbana da CML tem feito algum trabalho nesta área mas, como já referido, qualquer limpeza em geral não dura mais do que alguns dias, pois o local volta a ser manchado e algumas vezes com pior incidência do que anteriormente.
Tendo em vista esta situação e visto que a mesma já se arrasta há vários anos, deixo aqui algumas perguntas para reflexão:
- Por que razão tem Lisboa o centro histórico mais graffitado das capitais europeias, quando em outros países ditos civilizados, pelo contrário, nota-se um cuidado extremo na limpeza e preservação das zonas históricas?
- Por que motivo se deixou o Bairro Alto chegar ao triste estado actual e não se agiu já de uma forma decisiva e visível, dando assim um péssimo cartão de visita às centenas de pessoas que por ali passam diariamente?
- Por que não cria a CML equipas de vigilância que patrulhem os bairros históricos de Lisboa com regularidade, se há muito tempo que se sabe que são precisamente estas as zonas preferidas dos graffiters para efectuar o seu 'trabalho'?
- Por que motivo a CML não cria piquetes de intervenção rápida, do género dos que existem em outros organismos (EPAL, por exemplo), para que, logo que haja uma denúncia, num prazo de 24h a 48h, procedam à remoção do graffiti existente nas zonas históricas e/ou mais frequentadas pelos habitantes/turistas, ao invés de apenas deixarem esse trabalho a cargo de firmas contratadas, que por vezes levam 2 a 3 meses para efectuar uma simples limpeza?
- Para quando a criação de leis que punam de forma eficaz os graffiters, à semelhança do que foi feito em Inglaterra e no estado de New York, se a PSP e a PM sabem, na sua grande maioria, quem são os graffiters que actuam nestas zonas e se os mesmos podem ser facilmente identificáveis pois usam certas assinaturas que os distinguem uns dos outros?
- Em matéria de direito penal, por que motivo os tribunais não aplicam mais vezes a pena de serviço comunitário no caso dos graffiters, sabendo de antemão que o pior castigo que se pode dar nestes casos é obrigar alguém a limpar aquilo que conscientemente danificou?
- Afinal de contas, com todo este desleixo e falta de limpeza, que tipo de impressão desejamos passar aos turistas e aos habitantes da nossa cidade?
Tenho a consciência de que é praticamente impossível remover todo o graffiti existente, mas poderia haver um controle muito maior do que aquele que vemos e caso houvesse o empenho e os meios necessários, Lisboa não teria nem metade do graffiti que tem.
Acredito que somente uma maior visibilidade noticiosa deste assunto poderá levar quem de direito a tomar acção decisiva contra este praga que não só destrói o património urbano de Lisboa, como também dá um ar de 3º mundo a quem cá vive e a quem nos visita.
Muito obrigado pela sua atenção a este e-mail.
Com os melhores cumprimentos,
Tomás Alves
lisboalimpa@gmail.com
1 comentário:
Ora um tópico muito importante. O graffiti tem efeitos que vão para além da danificação do património e a degradação da estética urbana. Está mais que comprovado que os habitantes se sentem mais inseguros numa zona com graffiti e que se deixam de identificar com ela. É uma espiral descendente: graffiti, lixo, abandono, criminalidade. Aqui vão umas medidas que foram eficazes noutras cidades:
- Graffiti atrai graffiti, por isso as zonas afectadas devem ser limpas muito regularmente. Criar um número verde para denunciar graffiti e uma brigada de limpeza. Esta é a medida mais importante.
- Multas pagáveis na hora e o serviço comunitário obrigatório já mencionado.
- Obrigação dos proprietários de material e espaços (semi)urbanos (por exemplo cabines telefónicas, parques infantis, esplanadas, terrenos não-ocupados, zonas de obras,..) de limpar o graffiti em menos de 15 dias e de manter o espaço sem lixo.
- Proibir a venda de spray-tintas a menores de 18 anos.
- Incorporar técnicas anti-graffiti no design de mobiliário urbano e recuperação de fachadas (capas protectoras).
- Criar zonas onde o graffiti é expressamente autorizado e promover concursos de graffiti. Ajuda a integrar os ofensores na sociedade e direccionar o graffiti para arte em vez de vandalismo.
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