quarta-feira, julho 16, 2008
Coches na ... berlinda
Este é um dos três coches triunfais da embaixada real ao Papa Clemente XI, chamado dos 'Oceanos', e foi restaurado a tempo da Expo'98. O Governo da altura prometeu que os outros dois (do 'Embaixador' e da 'Coroação de Lisboa') fossem reaturados de imediato ... passaram 10 anos e nada.
Passados 10 anos, porém, com vista às comemorações do centenário da República, a Coroa, perdão o Governo, anuncia, com direito a arauto, o 'Novo Museu dos Coches', abençoado pela prancha de famoso arquitecto brasileiro. Razão essencial, para além das comemorações da República: em vez dos actuais 100.000 visitantes, Lisboa terá 1 milhão de visitantes, pois o novo edifício será ele próprio um ícone no circuito mundial, ao passo que o velho cheira a bafio, é mais apropriado para cavalos de Alter, os aprendizes dos 'Lippizaners', de Viena.
Mais, em prol do coche, ou melhor, da berlinda republicana; o automóvel, a nação erguerá um 'silo with a view', lado a lado com a Central Tejo, porque o milhão de visitantes esperados não tem onde estacionar. Fez-se a festa do anúncio, babaram-se os do costume (cada vez menos), outros fizeram de conta, alguns (pobres, ignorantes) abanaram a cabeça, outros, ainda, pensaram com os seus botões mas preferem calar. A maioria abstém-se: 'eles é que sabem'.
Pouco interessa se não se sabem alturas, nem se as vistas e o perímetro de protecção do Palácio de Belém são violados. Se a nova e bonita construção, se enquadra com a Praça Afonso de Albuquerque, ou se os milhóes que o Casino (outra herança real) debita ao som da alavanca da 'slot machine' deviam ser empregues em salvar e restaurar outras coisas de superior interesse cultural-histórico-patrimonial ... a começar pelos outros 2 coches triunfais. Mas não, 'eles' decidiram, está decidido. Despotismo esclarecido?
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3 comentários:
A primeira vez que se falou na transferência do museu dos coches, foi com base na ideia de voltar a usar os salões como picadeiros de alta escola. Iseia em si bastante interessante.
No entanto parece que essa utilização poderia colocar em perigo as pinturas dos tectos dos picadeiros, pelo que parece que a ideia já não irá avante
Pergunta:
Então para que é que se vai gastar milhões num novo museu?
Se o picadeiro, é demasiadamente valioso para voltar a ser usado como picadeiro, então que raio de uso é que lhe vão dar?
Os coches não estao bem onde estão?
Conforme já referi, parece-me que neste caso vamos de mal a pior, senão vejamos:
-Pior localização em termos de vulnerabilidade sísmica, passando de uma zona de baixa para uma de muito alta.
-Volumetria excessiva para a local; não nos podemos esquecer que se trata da primeira linha de construção.
-Falta de integração na envolvente.
-Tratamento do interior e da sua relação com a colecção de coches, de uma forma ultra-racionalista, como se de arte moderna se tratasse.
-Disperção de recursos humanos e financeiros, criando-se mais um espaçaço museulógico, que poderiam ser gastos por exemplo, na conclusão do Palácio da Ajuda, vergonha nacional sintomática do estado da nossa politica cultural.
Claro que, a esta mudança de instalações, deverá corresponder a atribuição de novas funções para o actual museu dos coches, que não a de picadeiro (para mim essa ideia lançada, não passa de um fait-divers). A esta necessidade de mudança parece estar subjacente algo de mais profundo, não sei e claro que o facto de o mais visitado museu nacional, ter sido criado por uma raínha de Portugal, acho que não criaria empecilhos ás comemorações do centenário da República; transformar este espaço num museu da república? Será esse o objectivo?
Este novo museu dos coches, nasce "côxo" logo á partida; sem discussão pública e sem envolvimento da sociedade civil. É um despesismo inútil!
Olhem para a decoração das paredes e tecto da primeira fotografia do post colocado mais em baixo, fechem os olhos um bocadinho e pensem... Os Coches enfiados num talho não valem nada, a não ser para as bestas que os deveriam puxar...
Que grande negociata que há-de estar por trás disto...
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