A Cidade de Lisboa,
a região de Lisboa
e a paz interna
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Na entrevista que foi cordatamente conduzida por Judite de Sousa e José Alberto de Carvalho na RTP 1, entre muitos outros momentos de à-vontade propagandístico - e alguns momentos de clara tensão interior - Sócrates teve um em que, de repente, pareceu ganhar terreno: aquele em que anunciou que em breve o Governo ia ajudar os portugueses, seja com benefícios na habitação, seja com redução de impostos relativos ao imobiliário, o célebre IMI.
Pareceu ali naqueles minutos ter finalmente reencontrado o rumo do antigo Sócrates.
O pior veio depois..
Veio-se a saber que afinal Guterres tinha essa proposta em cima da mesa (e Durão também, e Santana também e... Sócrates também até anteontem) - proposta que anda por lá a rebolar desde há 10 anos.
Não foi arrancada agora da imaginação do seu Governo - o que é logo mau para a imagem que Sócrates tanto preza. Mas, pior do que isso, é uma medida que não foi concebida para uma crise deste formato e desta gravidade. Daí, o pouco entusiasmo «popular» verificiado até hoje.
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Mas a questão que me traz aqui é bem mais séria do ponto de vista político para Sócrates: a eventual baixa do IMI e o fogo que isso veio atear.
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1ª questão
O alcance da medida vai ser mínimo, porque só (?) 60 das 308 autarquias é que praticam a tal taxa máxima de 0,05%. Lisboa, por exemplo, está nos 0,04%.
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2ª
As câmaras em geral reagiram como se esperava com a mesma fórmula que muitos dos que estávamos a ver e ouvir Sócrates em directo: «Mas então? O Governo corta outra vez é nas autarquias? Então e o Orçamento do Estado central, cujo bolo é bem maior?».
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3ª
Cometeu um erro diplomático de palmatória para com as autarquias: anunciou umamedida de sopetão, sem antes ter conversado com as vítimas - como devia ter feito um homem de Estado.
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4ª
Começou logo a pagar esse erro no terreno em que mais lhe dói: na opinião pública. Não só nas áreas externas ao PS, o que ainda seria mais ou menos normal e aceitável, mas na sua própria zona: nos círculos mais elevados e mais centrais do PS e logo na capital... De facto, dois dos seus braços direitos na política autárquica e nas estruturas do PS refilaram logo e com razão: Joaquim Raposo, presidente da câmara da Amadora e da FAUL (a mais importante estrutura regional do PS), que disse sem rebuço que o Governo não podia estar a resolver problemas seus à custa de outros; e António Costa, nº 2 do PS e presidente da CM de Lisboa (a mais importante autarquia do País e do PS), que disse .
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O que aconteceu?
Colocam-se aqui várias hipóteses.
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1.
Sócrates atirou por cima do seu próprio exército autárquico para atingir directamente os eleitores, os seus eleitores nas legislativas? Missão difícil.
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2.
Sócrates dá a entender que dispensa o seu exército autárquico para ganhar as legislativas? Missão impossível. Tanto pior quanto é certo que as sondagens e os estudos de imagem estão como estão, pior do que nunca, e quanto é famosa a penetração eleitoral dos políticos locais.
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3.
Sócrates anda tão nervoso que perdeu a tramontana de repente?
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4.
Cá para mim, na ânsia de acender uma chama de esperança nos eleitores, Sócrates ateou um fogo que não sei se vai apagar a tempo e horas.
E esse fogo está a arder exactamente em Lisboa (cidade e região), a maior concentração eleitoral do País e do PS. E está a arder também dentro do seu próprio partido que já constava na semana passada que não estaria muito satisfeito nas altas esferas. Nem com Sócrates nem com António Costa, ao que parece. Ou seja: hoje há menos paz e mais incomodidade no PS, em Lisboa, do que na semana passada.
E em política, quanto menos paz interna, pior.
E, para Sócrates... para pior já bastava assim.
1 comentário:
Nem que o governo dessse tudo e mais alguma coisa estes pedintes profissionais e albardados ficariam contentes.
Fazem-me lembrar as fábulas dos nórdicos. Só que os igoistas , nas tais fábulas,eram uns duendes maus,de péssimo carácter, narizes aferroados, olhos piscos e pernas disformes...
MFerrer
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