terça-feira, julho 15, 2008

Saramago na Casa dos Bicos


A proposta que vai amanhã a reunião de CML, da autoria do próprio Presidente, de instalação da Fundação José Saramago na Casa dos Bicos por um período de 10 anos, pode parecer um bom fim para um imóvel desconhecido da grande maioria das pessoas e ocupado desde há um punhado de anos pelo (invisível) pelouro da Cultura da própria CML.

Aparentemente, a coisa é pacífica - os propósitos da própria fundação são até bem actuais, pois até focam os problemas do ambiente (!) -, se bem que a dita casa (recorde-se, objecto de profundas obras de 'reabilitação' nos anos 80...) teria uma solução muito mais acertada se dedicada, por exemplo, às Descobertas ou aos homens da Renascença por cá (como comentário-sugestão mais que acertado a post anterior), e, claro, um 'factor de alavancagem' (como agora é de bom tom dizer), para o Campo das Cebolas, perdido que está entre o cheiro a sardinha e os carros estacionados por toda a parte. Só que a coisa tem várias implicações:

1. A Casa dos Bicos, embora propriedade da CML (e os exemplos de atribuições de edifícios da CML a privados, entre eles fundações, é coisa que não falta nas últimas décadas), é Monumento Nacional. É, portanto, um precedente importante e que merece alguma discussão.

2. A CML é proprietária de inúmeros palacetes e imóveis de prestígio que dariam um execelente espaço para a Fundação Saramago. Lembro a Quinta da Nossa Senhora da Paz (Lumiar), o Palacete de Santa Catarina/Bica, o Palácio dos Marqueses de Tancos, por exemplo. Património abandonado e estropiado, mas património muito importante. Mas a CML prefere a sua hipotética venda, sem sequer puxar pela cabeça para encontrar soluções alternativas. É pena.

3. A Casa dos Bicos tem valiosos vestígios arqueológicos no seu subsolo, que foram descobertos por escavações aquando das referidas obras, e que importa preservar e ... continuar a desenterrar. A hipotética instalação de um anfiteatro em cave na Casa dos Bicos poderá acarretar sérios danos patrimoninais. Atenção, estamos no séc. XXI!

4. Por último, alguém sabe para onde vai o Pelouro da Cultura da CML? Não sigam o exemplo do MAI, não o ponham em Oeiras, s.f.f.

Trata-se, pois, de uma proposta que, embora simpática e oportuna, não pode ser decidida às três pancadas. A ver vamos.

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