1. A Expo
Toda a gente continua preocupada pelo facto da marina da Expo ser apelidada de “maior pântano da cidade”. Citando Sousa Tavares, parece-me que está na altura de nos preocuparmos menos com a marina e mais com a “terrina”. Porque dez anos depois da Expo 98, a exploração imobiliária da zona continua por (de)terminar. Qual o limite do Parque das Nações? Vila Franca de Xira?
2. O Porto de Lisboa
Há 200 anos, a última das Linha de Torres, que nos protegia contra as investidas de Napoleão, estava localizada na barra do Tejo, em Oeiras e Cascais. Hoje, o “território independente” do Porto de Lisboa, ou seja a muralha de contentores que vai de Braço de Prata à Docapesca, em Pedrouços, é a linha de torres que impede os cidadãos de usufruir do Tejo. A diferença é que esta barreira já não é uma defesa mas uma verdadeira ofensa. Na presença dela, apetece pedir aos franceses para novamente invadir.
3. A Praça do Comércio
Os arquitectos em vigor e os políticos caducos adoram apresentar teorias conjecturais sobre o fracasso da Praça do Comércio como espaço lúdico. Dizem que não tem árvores, que falta comércio local, que se devia reduzir o trânsito. Mas quando a SIC expõe a maior árvore de Natal da Europa, os lisboetas mostram estar à altura do desafio. O que falta no resto do ano, então? Para começar, falta acabar as obras do metropolitano, que se prolongam há três mandatos camarários em Lisboa. Mas mesmo essas obras já vão terminar mal: na altura do início dos trabalhos, ninguém levou a sério a proposta de transferir o trânsito-sul da Praça para um túnel, como em Barcelona, de maneira a prolongar a área pedonal da praça até ao rio. O inevitável fim das obras não significa devolver a Praça do Comércio aos lisboetas mas ao galopante trânsito automóvel.
Quatro, cinco, seis e sete ervilhas. O que me sobra em tempo e vontade, falta em espaço e temperamento. Lisboa não é uma princesa e por isso convive bem com este horror – afinal, a sua desilusão não passa de um desígnio que vem de trás. Se a fundação da cidade data do terramoto, talvez tenhamos de esperar por outro cataclismo para endireitar este palco.
Miguel Somsen
2 comentários:
Lisboa está mas é a precisar de uma campanha em que seja chamada Lisgood.
pea...ce! diria um Massena (escondido entre contentores) a um Wellington eufórico!
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