Há pouco tempo, ouvi dizer que uma lisboeta das minhas relações teria sido multada por ter deixado uns sacos com papéis junto ao ecoponto e não lá dentro. Os sacos, parece, não cabiam, e ela deixou-os ali. Terá sido identificada pela morada inscrita em envelopes que estariam no saco.
Não confirmei a história, mas não há motivos para duvidar da sua veracidade, já que noutras localidades foram noticiadas e confirmadas multas semelhantes.
Estou pois à espera que os fiscais da Câmara de Lisboa me venham bater à porta. E espero sentada, porque há mais de seis meses enviei ao Departamento de Recolha de Resíduos ou lá como se chama o dito um email em que, após ter requerido, numa longa troca de missivas, que colocassem um ecoponto num local acessível à minha residência -- o que está mais perto dista à vontade uns 500 metros -- e me ter sido repetido que tal não é possível, invocando-se as razões mais esdruxúlas que se possam imaginar, como o facto de 'não haver espaço', informei simpaticamente a autarquia de que me considerava isenta da obrigatoriedade de separar o lixo.
Estranhamente, os fiscais não apareceram, apesar desta minha tão clara declaração de desobediência. Nem uma cartinha, nem um aviso, nem uma voz grossa ao telefone. Nada.
Claro que os fiscais não sabem que eu, apesar da ameaça, continuo a separar o lixo, porque me é impossível não o fazer. Moralmente impossível, quero dizer. Sucede é que tenho quilos de material para reciclar em casa, porque ir ao ecoponto é um projecto, com necessidade de marcação e mentalização prévia (para não falar do estado sempre nojento em que encontra o dito equipamento).
A moral da história, para quem precise de tradução, é que se corre mais riscos de levar com uma multa quando se tenta ser bom cidadão, separando o lixo e colocando o material para reciclar no ecoponto, que quando se enfia tudo à mistura no recipiente do lixo orgânico, como aliás fazem todas ou quase todas as pessoas da minha rua, e se avisa formalmente a autarquia dessa intenção.
Um último pormenor: eu moro no centro de Lisboa, na zona actualmente conhecida como Baixa, junto à Sé. Na minha rua há um ministério e uma junta de freguesia. Não faço ideia de onde é que o ministério coloca as decerto bastas toneladas de papel que deita fora mensalmente. E não faço ideia do que é que ocupa o dia-a-dia dos responsáveis da junta de freguesia. Como, aliás, não faço ideia do que fazem ao certo os responsáveis do Departamento dos Resíduos. Mas sei -- ver texto abaixo -- que entre as intenções do Plano de Requalificação da Baixa se encontrava 'adequado sistema de recolha e separação dos resíduos'. Parece que é preciso um plano especial de corrida, sectorialmente definido, para a Câmara de Lisboa fazer aquilo que para que existe. E isto no centro absoluto da cidade, o tal que é suposto ser ex-libris e 'atrair habitantes' e mais não sei o quê. Estão de parabéns.
2 comentários:
É realmente lamentável e infelizmente é um episódio tão comum.
Também separo o lixo, porque penso que o posso e devo fazer, mas não condeno aqueles que não fazem argumentando que já que continuamos a pagar o excesso de dinheiro na factura mensal pelo tratamento de resíduos, então as empresas que lucram com ele que o façam e ainda dão emprego a muito boa gente!...
(º_º)
Todas as semanas, dia sim dia não lá vou eu com os sacões de lixo para reciclar, qual saltimbanco de feira de Carcavelos. Não direi que ando centenas de metros para obedecer ao meu grilinho da consciência, mas que me chateio tremendamente qdo lá chego e vejo tudo cheio e a transbordar, lá isso é verdade. Dá-me vontade de ...
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