quarta-feira, março 28, 2007

Terreiro do Paço de ar e vento

Relativamente ao artigo de hoje no DN "Terreiro do Paço sem 'arrumação' à vista" de Luísa Botinas, muitos se têm já debruçado sobre este tema.
No ano passado, o Jornal Público de 26 de Novembro (*), trazia o artigo "O QUE FAZER COM A PRAÇA REAL "MAIS BELA DO MUNDO"? elaborado na sequência de um colóquio internacional sobre Praças Reais organizado pela Universidade Autónoma de Lisboa.
"Pode o Terreiro do Paço ser "um lugar de sociabilidade"? Ou deve a praça servir a função para que foi pensada e ser o centro do Estado, um local de representação? "A função da praça está definida por ela própria. O Rossio é uma praça de estar. O Terreiro do Paço é uma praça real", interrogou-se o olissipógrafo José Sarmento de Matos.(...) que defende "que os andares de cima têm que continuar a servir para os serviços do Estado, enquanto nos pisos baixos das arcadas podem instalar-se, por exemplo, galerias de arte, livrarias e um centro de informação ligado à história da Baixa. Mas mesmo que isto fixe alguns pontos na praça, esta "pelo tamanho, não tem condições para nela se estar como no Rossio".

"Noutro tempo, a vida no Terreiro do Paço era muito diferente". Maria Alexandre Lousada, do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, descreveu-a como um local "com cafés, a Bolsa, a actividade portuária", em que, debaixo das arcadas "existiam lojas como a da Gazeta, que funcionavam como âncoras de sociabilidade, locais de encontro", e em que o Cais da Pedra "era um dos lugares de passeio dos lisboetas à noite". "Se lhe retiramos essas funções, as possibilidades da praça ser um local de sociabilidade quotidiana esvaziam-se", concluiu.
Para António Filipe Pimentel, do Instituto de História de Arte da Universidade de Coimbra "Ao contrário do Rossio, que tem "uma dimensão mais humana", a Praça do Comércio é "esmagadoramente grande, batida pelo sol no Verão, fabulosa como cenário mas dificilmente vivível".

O Terreiro do Paço "é, como sempre foi, um desafio à população de Lisboa, à câmara, ao Estado", resumiu o arquitecto José Manuel Fernandes. "Tentámos fazer ali a praça mais bela do mundo, há 250 anos. Conseguimos. É muito mais bela do que todas as praças francesas juntas. Tem a relação com o rio, o brilho, a luz, a proporção."
Mas é uma praça que nasceu para "materializar um sonho de autoritarismo", num país que "nunca teve muito respeito pelo poder público", e o problema agora é "o que fazer com uma praça belíssima mas esvaziada de conteúdo". Na opinião do arquitecto, o essencial é "libertá-la dos constrangimentos institucionais e do trânsito medonho" e abri-la novamente para o rio, porque essa relação única com o rio "é a sua razão de ser". Mas vivê-la nunca será fácil. "Como é que se pode viver numa coisa tão rígida, tão dura, tão bela?".
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(*) Texto adaptado
(Maria Isabel Goulão)

3 comentários:

Anónimo disse...

"Tem a relação com o rio,...", meia relação com o rio, diria.
Enquanto o acesso ao rio for cortado por via rápida, não se vai adiantar muito com livrarias, ou seja o que for. Tirar o tráfego junto ao rio (túnel ?), e o resto
vem por si mesmo.

JA

Paulo Ferrero disse...

O Terreiro do Paço é uma praça belíssima, e não há direito o estado em que está: Arco ao abandono, telhados, janelas e portas adulterados nalguns dos torreões, interiores esburacados, passeios com laje solta, saída do Metro mal colocada, túnel do Metro que se arrasta, estátua de D.José a precisar de restauro urgente, cais das colunas virou lago de dejectos, vedação de arame quase farpado, peões junto à Av.Rib.Naus têm que ser «atropelados» para seguirem o seu caminho, autocarros parados a torto e direito, árvore Millenium no Natal, curral-esplanada durante o Verão, etc., etc.

Acho que no meio está a virtude e que, por isso, há que continuar por lá com administração central e tribunais, mas isso não impede que se possa libertar os R/C. Que se possa tb disciplinar as esplanadas, os alfarrábios. Que se abra algum comércio de referência, e um espaço museológico (pq não o museu das Descobertas?).

Termos uma praça como aquela assim como está, é um desperdício completo. O pior é que só para limpar a placa central de carros estacionados foram precisas décadas. Temo que por este andar seja preciso um século para alguém (?) ver ser devolvida ao Terreiro do Paço a sua dignidade.

Anónimo disse...

Acredito que um dia o Terreiro do Paço será devolvida ao Tejo.