LOCAL LISBOA-PÚBLICO
Carris acusa câmara de "empurrar com a barriga" problemas de mobilidade
Salvaguardou que "como gestor público" teria de ser "ponderado nas palavras", mas o presidente da companhia de transportes públicos Carris foi tudo menos contido na intervenção que fez quinta-feira na Sociedade Portuguesa de Geografia, no âmbito das comemorações do Ano Internacional do Planeta Terra. Os decisores políticos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) e, em particular, a Câmara de Lisboa não se furtaram às críticas de José Silva Rodrigues, para quem a capital "está a pagar o preço da incapacidade e da sucessão gigantesca de asneiras" perpetradas por "executivos de todas as cores ao longo dos últimos 30 anos".
"Quem governa a AML? Ninguém. A AML é uma ficção. Há mais de 20 entidades, cada uma responsável por um bocadinho, o que é apenas uma desculpa para não se fazer nada. Corre tudo mal, cada um diz que fez o seu bocadinho bem e ninguém é responsabilizado", censurou Silva Rodrigues. "Não estou a dizer que a solução é a regionalização, mas a governabilidade da AML é fundamental para acabar com este caos em que vivemos: o congestionamento automóvel permanente penaliza gravemente a qualidade de vida e a competitividade da cidade", advertiu.
Mas, sublinhou o presidente da Carris e ex-vereador da Câmara de Lisboa, o "caos" é também imputável à autarquia da capital, que "tem de assegurar transportes colectivos de qualidade" e deixar de planear a cidade para o automóvel. "A câmara tem caído na tentação de ir empurrando com a barriga as coisas enquanto pode até não aguentar mais. Quando fui vereador não havia uma direcção de mobilidade, mas de tráfego, e 15 anos depois a lógica é a mesma."
Limitar, tornar mais caro e sobretudo fiscalizar o estacionamento são as medidas que a câmara deveria tomar de imediato, explicou o presidente da Carris. "O estacionamento não pode continuar a ser feito da forma que o fazemos em Lisboa, sem regras claras e sem uma política rigorosa", preveniu perante uma plateia de cerca de 25 académicos. "Aumentar o espaço de estacionamento na cidade é andar ao contrário do que deve ser feito. É relativamente fácil gerir esta variável e, se na AML não a gerimos adequadamente, então na cidade não a gerimos de todo: é só ver as segundas filas, os passeios cheios de carros, a falta de fiscalização e o sentimento de impunidade generalizado dos cidadãos".
Assim, para o também economista, a câmara deve sobretudo penalizar os prevaricadores, aperceber-se de que "regular bem o estacionamento não é fazer espectáculos ocasionais para as televisões" e, sobretudo, deixar de "fazer tudo ao contrário do que diz". "Dizem que querem uma cidade descongestionada e depois anunciam novos parques no centro da cidade. Qual a coerência deste modelo?"
Aumentar as vias destinadas aos transportes públicos e dar-lhes semaforização prioritária ("se estiver parado nos sinais e vir os autocarros a avançar, se calhar até penso mudar de meio de transporte") são outras soluções apontadas por Silva Rodrigues. "A nossa frota anda uma média de 14,5 quilómetros por hora. Se nos deixassem andar a mais um quilómetro pouparíamos cinco milhões de euros por ano."
Mas, acima de tudo, o que Silva Rodrigues preconiza é a articulação efectiva das companhias de transportes colectivos da AML, o que apenas requer "vontade política". "Há 400 bilhetes diferentes na AML e até nós não sabemos qual é o título mais adequado a cada viagem. Não se pode continuar a fingir que o problema não existe só porque a reformulação do sistema comportaria um aumento das tarifas", defendeu o responsável, que rematou: "Se causar indignação, paciência, mas os transportes são baratos e os preços ainda têm por onde crescer."
(foto: Gente de Lisboa)Carris acusa câmara de "empurrar com a barriga" problemas de mobilidade
Salvaguardou que "como gestor público" teria de ser "ponderado nas palavras", mas o presidente da companhia de transportes públicos Carris foi tudo menos contido na intervenção que fez quinta-feira na Sociedade Portuguesa de Geografia, no âmbito das comemorações do Ano Internacional do Planeta Terra. Os decisores políticos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) e, em particular, a Câmara de Lisboa não se furtaram às críticas de José Silva Rodrigues, para quem a capital "está a pagar o preço da incapacidade e da sucessão gigantesca de asneiras" perpetradas por "executivos de todas as cores ao longo dos últimos 30 anos".
"Quem governa a AML? Ninguém. A AML é uma ficção. Há mais de 20 entidades, cada uma responsável por um bocadinho, o que é apenas uma desculpa para não se fazer nada. Corre tudo mal, cada um diz que fez o seu bocadinho bem e ninguém é responsabilizado", censurou Silva Rodrigues. "Não estou a dizer que a solução é a regionalização, mas a governabilidade da AML é fundamental para acabar com este caos em que vivemos: o congestionamento automóvel permanente penaliza gravemente a qualidade de vida e a competitividade da cidade", advertiu.
Mas, sublinhou o presidente da Carris e ex-vereador da Câmara de Lisboa, o "caos" é também imputável à autarquia da capital, que "tem de assegurar transportes colectivos de qualidade" e deixar de planear a cidade para o automóvel. "A câmara tem caído na tentação de ir empurrando com a barriga as coisas enquanto pode até não aguentar mais. Quando fui vereador não havia uma direcção de mobilidade, mas de tráfego, e 15 anos depois a lógica é a mesma."
Limitar, tornar mais caro e sobretudo fiscalizar o estacionamento são as medidas que a câmara deveria tomar de imediato, explicou o presidente da Carris. "O estacionamento não pode continuar a ser feito da forma que o fazemos em Lisboa, sem regras claras e sem uma política rigorosa", preveniu perante uma plateia de cerca de 25 académicos. "Aumentar o espaço de estacionamento na cidade é andar ao contrário do que deve ser feito. É relativamente fácil gerir esta variável e, se na AML não a gerimos adequadamente, então na cidade não a gerimos de todo: é só ver as segundas filas, os passeios cheios de carros, a falta de fiscalização e o sentimento de impunidade generalizado dos cidadãos".
Assim, para o também economista, a câmara deve sobretudo penalizar os prevaricadores, aperceber-se de que "regular bem o estacionamento não é fazer espectáculos ocasionais para as televisões" e, sobretudo, deixar de "fazer tudo ao contrário do que diz". "Dizem que querem uma cidade descongestionada e depois anunciam novos parques no centro da cidade. Qual a coerência deste modelo?"
Aumentar as vias destinadas aos transportes públicos e dar-lhes semaforização prioritária ("se estiver parado nos sinais e vir os autocarros a avançar, se calhar até penso mudar de meio de transporte") são outras soluções apontadas por Silva Rodrigues. "A nossa frota anda uma média de 14,5 quilómetros por hora. Se nos deixassem andar a mais um quilómetro pouparíamos cinco milhões de euros por ano."
Mas, acima de tudo, o que Silva Rodrigues preconiza é a articulação efectiva das companhias de transportes colectivos da AML, o que apenas requer "vontade política". "Há 400 bilhetes diferentes na AML e até nós não sabemos qual é o título mais adequado a cada viagem. Não se pode continuar a fingir que o problema não existe só porque a reformulação do sistema comportaria um aumento das tarifas", defendeu o responsável, que rematou: "Se causar indignação, paciência, mas os transportes são baratos e os preços ainda têm por onde crescer."
(ISABEL G)
1 comentário:
"Limitar, tornar mais caro e sobretudo fiscalizar o estacionamento"
...ou seja o que se vai fazendo por outras cidades deste continente....há meio século.
JA
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