Ao mesmo tempo, a OCDE afirmava que o Estado português não podia investir mais no ensino superior. Vinda de uma organização invariavelmente pronta a defender um aumento de despesa no sector, a frase surpreende. Durante anos, os políticos apregoaram que mais educação significaria mais desenvolvimento. Era uma opinião partilhada, desde o século XVIII, pelos cérebros “iluminados” e pelas camadas da população que haviam cedido diante da propaganda anunciando que quanto mais licenciados existissem mais depressa Portugal ultrapassaria a Finlândia (no século XIX era aNoruega). Que vemos nós?
A economia estagna e um número crescente de doutorados está no desemprego. A pergunta é inevitável: se temos gente altamente qualificada por que não sobe o país até ao panteão dos ricos? Por uma razão: os políticos enganaram-se, ou pior, mentiram-nos. Há décadas que se sabe que a correlação desenvolvimento-educação não é elevada e que, mesmo que o fosse, nada diz sobre a causalidade. Para quem desejar perceber o que se passa, aconselho a leitura do livro de AlisonWolf, Does Education Matter?: Myths about Education and Economic Growth(2002).
Uma coisa é a retórica dos políticos, outra a realidade. Em Portugal, no mundo dos callcenters (onde o pagamento à hora é, em média, de 2,5 euros), 35% dos 7.500 operadores têm um curso superior. O desenvolvimento económico depende de muitas coisas: a educação não é a decisiva. Em suma, é bom que existam escolas de qualidade, mas não pelos motivos invocados.
Maria Filomena Mónica
1 comentário:
A educação-instrução que temos vindo a ter conduziu à praga da ileteracia.
Muita coisa tem de mudar em todos os quadrantes.
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