quinta-feira, abril 03, 2008

"Príncipe holandês aproveita escala para filmar Lisboa
Bernardo exclamava a cada novo recanto: "É admirável!", "magnífico!", "encantador!"
"Quando o grande avião da KLM pousou no aeroporto, ontem à tarde, a primeira pessoa a descer dele foi o Príncipe Bernardo, marido da Rainha Juliana da Holanda", informava, a 6 de Março de 1951, o DN. "O ilustre visitante tinha manifestado o desejo de aproveitar a demora habitual do avião no aeroporto - cerca de um hora, empregada no reabastecimento de combustíveis - para fazer uma breve visita a Lisboa." Que diferença de trânsito! Meio século depois, um pedido desses seria insensato.
(...)
"Atravessando a Praça do Areeiro, cujos passeios estavam coalhados de público, o cortejo automóvel dirigiu-se depois ao miradouro da Senhora do Monte, onde se fez a primeira paragem. O Príncipe, visivelmente impressionado com o panorama, manifestou em breves palavras dirigidas ao sr. dr. Henrique Viana [o representante do Governo português que estava a servir de anfitrião] quanto apreciava aquela perspectiva de Lisboa que ainda desconhecia. E acrescentou:
- Conhecia Lisboa, mas não vista deste ponto. É admirável; sobretudo o castelo!"
(...) O príncipe, "a que uns grandes óculos escuros não ocultavam um sorriso alegre, pegou numa máquina de filmar e, procurando o ângulo mais conveniente, fixou vários aspectos da cidade, que rebrilhava ao Sol e oferecia uma encantadora visão. E como alguém lembrasse dispor-se de pouco tempo, o ilustre visitante lançou um último olhar à cidade e afastou-se exclamando:
- É magnífico!"
Lisboa vista de corrida e apreciada com entusiasmo. "A primeira paragem, pouco depois, não estava prevista e fez-se no Largo das Portas do Sol, a pedido do Príncipe, que desejava filmar algo. Rapidamente - o ar desportivo do Príncipe, alto e elegante, fá-lo parecer mais jovem do que é - dirigiu-se para o Beco de Santa Helena e, enquadrando os velhos muros e quintais dos primeiros planos e as torres soberbas do Panteão que pareciam faiscar ao longe - tão clara a luz que as banhava! -, o Príncipe filmou novamente. E filmou ainda a vetusta frontaria da Sé, um pouco mais adiante. Depois, no Terreiro do Paço, nova filmagem e novas palavras de encantamento dirigidas ao sr. dr. Henrique Viana, que fazia breves referências aos monumentos e locais admirados. (...) O cortejo seguiu depois através do Rossio e Avenida da Liberdade para o Parque Eduardo VII e dali em direcção ao aeroporto." E, à conversa com os jornalistas, Bernardo desabafava: "Apenas posso dizer-lhes que me sinto muito feliz por aqui estar e ao mesmo tempo muito triste por ser por tão pouco tempo. Isso dá-me muita vontade de voltar para ver melhor a cidade e o vosso belo país. (...) Espero ficar uma vez por mais tempo. Assim é uma visita excessivamente rápida. Sentimo--nos roubados no prazer que temos com a contemplação de tanta beleza."
Mas, "afinal, os desejos do Príncipe de ver bem Lisboa tiveram meia satisfação. O avião - que tem o nome do Príncipe - sofrera leve avaria, cuja reparação demorou duas horas, além do tempo previsto para o reabastecimento de gasolina. E o Príncipe Bernardo aproveitou esse tempo para nova visita a Lisboa. O Estádio Nacional e os Jerónimos impressionaram-no agradavelmente, assim como os pontos admirados no regresso deste novo passeio - Montes Claros, Ajuda, etc." Uma curiosidade: "O Príncipe viaja num avião de carreira, que transporta numerosos outros passageiros." E, nessa época, Bernardo fazia parte da direcção da KLM. "
Fernando Madaíl - Diário de Notícias

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