terça-feira, abril 15, 2008

Terceira Travessia: Câmara de Lisboa discute opção em reunião extraordinária (*)

Este é um daqueles momentos clarificadores. Não sobre quem diz não importa o quê, mas sobre quem subscreve e vincula o quê para a cidade. A CML representa os interesses da cidade de Lisboa, da capital deste país.

Não representa os interesses do Barreiro, do Montijo ou Loures. E o executivo da CML responde perante os liboetas, os de agora e os que hão-de vir. E devia tê-lo feito desde o primeiro minuto, pugnando pelo debate, pugnando pela Democracia, que é disso que se trata, e já que o Governo não o fez, nem fará, senão empurrado.

A questão da TTT é uma questão fulcral, não só pelos biliões que envolve, mas pelo que representa em termos de oportunidade (perdida ou não) de efectivação de uma cidade planeada, e não uma cidade fruto do negócio de ocasião ou da opção técnica que convém àquele ou aqueloutro lóbi, sejamos claros.

O debate resumiu-se à confrangedora discussão (à partida, enviesada) entre Chelas-Barreiro vs. Beato-Montijo?

- Alguém falou alguma coisa sobre se o TGV deve entrar em Lisboa, ou não? (Lisboa não é Paris ou Londres, mas sim uma cidade de tamanho médio a nível europeu, e nessas cidades, o TGV costuma ficar lá fora, com ligações de metro ligeiro de superfície entre a estação e a cidade);
- Alguém esclareceu se o comboio pode vir por túnel (ou ninguém por cá é capaz de fazer algo como o que se fez na Mancha?);
- Alguém discutiu verdadeiramente onde deverá ser a estação central de comboios, ou se que o que se deve fazer é alargar a Linha de Cintura, e centralizar a estação no Rêgo?
- Alguém mostrou imagens efectivas do que será o tabuleiro da ponte com os seus 38 m de largo, e altura, entre tabuleiros, de 10m; ou das respectivas vistas de perfil e de frente, desde Lisboa e desde a outra margem?
- Alguém mostrou imagens dos viadutos a criar ou dos futuros nós rodoviários do vale de Chelas acima, Av. E.U.A. e 2ª Circular (e das alternativas, caso isso seja impossível ... allô, 'Circular das Colinas')?
- Alguém mostrou as manobras e as dificuldades da atracagem dos navios junto aos tirantes da margem direita do Tejo, se a opção Chelas-Barreiro for avante?
- Alguém falou sobre o que se deve fazer, de facto, entre Algés e Trafaria, se túnel rodoviário

Zero.

Assistimos todos a duas barricadas; estando uma com artilharia pesada, versão oficial, fruto de 'reflexão e opção estratégica', e outra, munida de 'arco e flecha', perfigurando 'a' alternativa possível, versão in-extremis de quem sabe que se não for assim, não haverá debate algum.

Esta questão da TTT não devia ser fracturante, mas aglutinadora. O debate não devia ser imposto pelos cidadãos, mas antes fruto de uma pré-disposição natural dos decisores.

Basta de cidade mal planeada. Basta de uma cidade feita de erros, uns atrás dos outros: infraestruturais, urbanísticos, ambientais. Basta de maltratarem as nossas vistas. Basta de desbaratarem o que nos deixaram de bom, e que é pouco, muito pouco.

Em pleno Séc. XXI, continuam a tratar os portugueses como patós. No fundo, no fundo, os decisores continuam iguaizinhos, e o ditado a manter-se: 'tudo como dantes, quartel-general em Abrantes'. Não aprendem, mesmo.

Será de esperar alguma coisa da reunião de hoje de CML?


(*) In Sol Online

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