É na cultura do virtual – sem sentimentos nem valores – que muitos se estão a criar. O resultado não pode ser bom. Não é bom.
O tema parecia incontornável, mas o tema não é incontornável porque há algo de muito mais grave para além dele.
Falo, algum tempo passado (pouco, reconheço), da história da aluna, da professora e do telemóvel ou da história dos pais da aluna, dos ‘fiscais’ da professora e dos ‘donos’ do telemóvel. A aluna é um resultadinho disso tudo, nem mais nem menos.
Falo de nós e de parte da geração que se cria, da atenção que lhe é dada – ou da falta dela – e do que lhe incutimos ou não incutimos (Morávia torna-se incontornável, com a sua Indiferença).
No mundo urbano e ocidental, o fim do dia de trabalho representa, para muitos:
– Buscar os filhos à creche, à escola ou encontrá-los já em casa;
– Sentar os filhos e alimentá-los;
– Sentar os filhos frente à consola, à televisão ou ao computador;
– Sentarem-se os próprios.
O que significa:
– Cada um ficar consigo e a ‘realidade’ que escolher (televisão, computador, consola);
– Não fazer refeições em família ou em conjunto;
– Não conversar;
– Logo, nada discutir;
– Logo, nada incutir.
Na consola, no computador ou na televisão – optando por programas de facilitismo – provavelmente o pai no desporto, a mãe em qualquer outra coisa – a criança vai desenvolver-se: achará normal carros explodirem, pessoas cortadas ao meio – tudo como vê no mundo virtual – em particular se estiver frente a uma consola. E, é claro, um empurrão, um abanão, nada são perto disso. Os fins-de-semana – também para muitos – não serão muito diferentes, talvez uma incursão a um qualquer lugar de mero consumo, um centro comercial.
Estamos à espera de quê? Não sou, não fui, não serei moralista nem indicarei costumes individuais a outros, mas lá que ninguém aprende outra realidade se só for criado entre postas humanas, assaltos, guerras e tiros, não. Achará tudo natural e é na cultura do virtual – sem sentimentos nem valores – que muitos se estão a criar, ai isso é. Misturado com batatas fritas e refeições congeladas.
O resultado não pode ser bom. Não é bom. Começar por pensar a questão de tantos sinais de fim de ciclo, talvez não seja mau. Estamos a criar massas de nervo e osso avalorativas, quase sem dar por isso.
Paula Teixeira da Cruz
1 comentário:
Estamos no mundo ocidental, mas no «outro» as coisas não se passam tanto quanto sei assim e o horizonte também não é desanuviado, pelo contrário.
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