sábado, março 31, 2007

Lisboa: beleza e segurança de mãos dadas num túnel que tem sido uma criança problemática

Cartinha aberta ao Menino Túnel


Meu querido Túnel do Marquês,
Sei que ainda nem nasceste e que a tua gestação tem sido problemática a vários títulos. Mas já és um bébé adorável. Soube hoje que és lindo, lindo. Não que já te tenha visto. Melhor: não que já te tenha atravessado. Não que pelas fotos deduza isso. Mas acredito no que me dizem. Tanto quanto percebo dos comentários e dos elogios, deves ser mesmo apetecível.

Querido Túnel,
Noto que, depois de muitos problemas de concepção e após algum silêncio de quem te quis dar à luz, acabaste por ter vários candidatos a pais. Primeiro foi só um. Depois, outro. Depois, todos se calaram durante muitas luas. Agora, parece que a tua paternidade tem de ser objecto de análise de ADN. Tens aí vários candidatos perfilados. Mas não são pais biológicos. Não. São apenas pais afectivos. Ou adoptivos, de última hora, sei lá.

Bichaninho,
Soube também que o teu pai biológico, hoje um pouco renegado pela família, te declarou muito seguro. O mais seguro. Naquele seu habitual tom sem tom nem som que costuma usar para não dizer nada mas que ocupa sempre muitos pixels em ecrãs e muitos caracteres em muitos jornais impressos, esse então foi grandiloquente: «É o túnel mais seguro da Europa». Prontos. Se ele o diz… E nem sequer é engenheiro civil. A propósito de «não ser» «engenheiro civil»: parece, aliás, que este teu pai biológico não é o único que o não é. (De repente deu o mal-de-murcho aos engenheiros civis em Portugal, é? Sabes alguma coisa sobre isso, tu, que todos os dias deves contactar com vários que o são mesmo?)

Coisinha fofa de seus papás,
Outro dos teus presuntivos pais, mas agora dos que o são apenas afectivos, veio também dizer-me que dentro das tuas belas entranhas nem sequer é possível ter o prazer de morrer, de ter sequer um acidente a sério. Basta experimentar – é o aparente convite que me fazem nos jornais de hoje: nem pensar em bater a sério no carro da vizinha da frente: é-se logo desviado para a sua própria faixa. Tudo informatizado, imagino. Mas isto, que parece uma vantagem, a mim soou-me a ameaça. Logo agora que eu estava disposto a experimentar bater de frente num pilarzinho e ter os meus 15 minutos de fama (até já me disseram que desistisse dessa maluqueira de querer morrer ali como aconteceu à Princess lá em Paris. Ná. Aqui, nada. Procure outra forma séria de morrer…)

Queridíssimo, Beleza, Tunelzinho «mais bonito do mundo» (esta tem direitos de autor, tem de ir entre aspas...),
Termino esta missiva com uma declaração que te vai agradar: no primeiro dia em que estiveres de entranhas oficialmente escancaradas, não vou fazer mais nada: só passear-me em ti, para cá e para lá, para cá e para lá, das Amoreiras para a Fontes Pereira de Melo e daqui para as Amoreiras…

Deste que te vai adorar,
Um admirador secreto,
Declaradamente sensibilizado pela tua segurança,

Rendido à tua Beleza única,

JCM.

sexta-feira, março 30, 2007

E por cá?

«Humor Antigo» - 1942
Quando, há uns anos, alguém teve a peregrina ideia de acabar com as famosas cabines telefónicas londrinas, houve uma forte contestação. Não sei se ela foi bem ou mal sucedida, mas imagino que esta imagem deve ter feito parte desse movimento cívico de protesto:

E por cá como foi? Alguém se lembra?

O APONTADOR

Aprendi em pequenino que apontar é feio. Hoje é o máximo que a CML consegue fazer é apontar.

O TÚNEL EM NÚMEROS

Mais de duas mil toneladas de aço e 36 mil metros cúbicos de betão foram usadas na construção do Túnel do Marquês, em Lisboa, que terá 40 câmaras em vigilância constante e cujo ar será permanentemente monitorizado. O responsável da Câmara de Lisboa pela obra, Vítor Damião, disse hoje aos jornalistas numa visita guiada que o limite de velocidade dentro do túnel, que está já equipado com um radar, será de 50 quilómetros por hora. Segundo Vítor Damião, "a essa velocidade o túnel é seguríssimo, mesmo com a inclinação" de 9,3 por cento na entrada das Amoreiras. O trânsito de pesados e transportes colectivos será vedado, uma decisão que teve "motivos de segurança" e pesou o facto de os transportes precisarem de circular à superfície para fazer paragens. Dentro do túnel, onde se realizam agora testes de segurança, o ar é constantemente monitorizado, precavendo acumulações de gases nocivos, fumos ou incêndios e renovado através de um total de 14 ventiladores. "Como o ar é constantemente renovado, será até melhor do que no exterior", garantiu Vítor Damião. Em caso de sinistro, o tempo estimado de acesso dos bombeiros é de "quatro minutos", adiantou o vereador lisboeta das Obras Municipais, Pedro Feist.

Sensores de trânsito detectam eventuais engarrafamentos e podem coordenar os semáforos no exterior de maneira a que fechem para facilitar o esvaziamento do túnel, em situações de necessidade. O piso do túnel é revestido com mais de vinte mil metros quadrados de um pavimento rugoso que facilita a travagem. O desenho dos separadores centrais foi pensado para prevenir colisões frontais com as colunas, devido a uma inclinação que teria evitado a morte da Princesa Diana, cujo carro embateu contra uma coluna num túnel na cidade de Paris, referiu Vítor Damião. Quarenta câmaras de vigilância cobrem todo o espaço subterrâneo e das entradas e são monitorizadas numa sala de comando, no centro do túnel, cujas paredes são revestidas por 1,4 milhões de azulejos e iluminadas por 1200 lâmpadas. Os condutores terão painéis de informação sempre à vista nos 1.725 metros de extensão do túnel, referiu Vítor Damião. Ao longo das obras, que duraram mais de quatro anos a um custo total estimado em 18,7 milhões de euros, foram escavados 150 mil metros cúbicos. Trinta e seis mil metros cúbicos de betão foram usados na construção, sustentada também por 2,3 mil toneladas de aço. Segundo os números da autarquia, uma média de 100 trabalhadores por dia cumpriu 19.628 horas de trabalho.
Fonte: Lusa

BAIRRO ISLÂMICO DO CASTELO ABRE AO PÚBLICO

Uma equipa de arqueólogos descobriu, no decurso de escavações no Castelo de São Jorge, em Lisboa, a estrutura de um bairro islâmico de meados do século XI, numa área que abrirá ao público em finais de Outubro. O início das escavações remonta a 1996, numa altura em que se pretendia construir no local um parque de estacionamento. Face aos vestígios descobertos durante as escavações, a construção do parque seria suspensa e começou a intervenção de uma equipa de arqueólogos no terreno. De então para cá, as escavações têm avançado e parado, mas no total já perfazem dois anos de trabalho.

Em Janeiro último, ao abrigo de um protocolo celebrado entre a Câmara Municipal de Lisboa (através da empresa municipal de gestão de equipamentos e animação cultural - EGEAC) e o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), as escavações recomeçaram com novo fôlego. No terreno, está uma equipa de seis arqueólogos, um desenhador e dois técnicos de conservação e restauro. Alexandra Gaspar e Ana Gomes são as arqueólogas que chefiam esta equipa, que está a trabalhar na "musealização" (preservação e exposição) do espaço, junto a uma das muralhas do castelo e à igreja de Santa Cruz. Foram encontrados três grandes núcleos de diferentes épocas: um da Idade do Ferro (século VI a.C.), um núcleo islâmico (o principal) e um núcleo medieval. Os achados ajudam a reconstituir a história da cidade ao longo dos tempos.

"A estrutura do bairro islâmico, pela dimensão das casas (algumas com 200 metros quadrados) e pelas ruas a elas associadas (que servem várias casas) mostram que há um projecto urbanístico para este espaço a partir de meados do século XI, é a datação que conseguimos a partir dos materiais encontrados", afirmou à Lusa a arqueóloga Ana Gomes. Por outro lado, foram descobertos vários objectos - potes, tigelas, saladeiras, candeias - associados às casas, que pelas dimensões se crê terem sido habitadas por gente importante. "Num outro núcleo podem ver-se as sucessivas evoluções do Paço dos Bispos", apontou a mesma arqueóloga.

Os documentos da época e os achados indicam que no espaço onde foram descobertas cinco casas islâmicas, existiu, depois da expulsão dos mouros e até ao século XV, o Paço dos Bispos, uma importante residência eclesiástica, segundo as explicações das duas arqueólogas. A partir de 1500 e até ao século XVIII o paço terá dado lugar ao palácio dos condes de Santiago, mas, depois do terramoto de 1755, o terreno onde agora decorrem as escavações ficou desabitado e tornou- se um parque de merendas. Duas das casas do bairro islâmico, réplicas de objectos nelas encontrados e os vestígios (contíguos) da construção do Paço dos Bispos serão mostrados aos visitantes do castelo, uma vez concluídas as intervenções em curso. "Os trabalhos na zona islâmica e na zona medieval ficarão concluídos até 25 de Outubro", data prevista para a inauguração, indicou Ana Gomes.

A nível mais profundo do solo foram encontrados também vestígios da Idade do Ferro que ficarão igualmente a descoberto. "Este terceiro núcleo também será mostrado, mas ainda está numa fase inicial (de pesquisa), o que implicará mais alguns trabalhos arqueológicos", adiantou a mesma investigadora, que tem acompanhado as escavações desde 1996. O Castelo de São Jorge é um dos monumentos mais visitados de Lisboa.

Fonte: Lusa

Ontem, no fecho das conversas no Nicola,


PSL esteve igual a si mesmo, one man show: chegou atrasado 30m, teve casa a abarrotar, direito a RTP e dezena de fotógrafos; teve secretária para lhe levar 2 dossiers (um dos quais com "Confidencial" na etiqueta da lombada, supõe-se que fosse o tal relatório da auditoria interna que mencionou, da P&W) e ir colocando os slides; e falou durante 50m de si próprio, ou seja, de nada.

Decidiu responder a um artigo que alguém do PCP terá escrito recentemente na Visão, com o que está escrito na publicação, cara e pesadona, "Lisboa 2002/2005 - Prestar Contas", ou seja, falou ... das piscinas que acha «tão bonitas e que ficam bem naquela zona».

Pelo caminho deixou algumas pérolas:

- um elogio a Ribeiro Teles ... esquecendo-se de explicar porque o despejou (!);
- o «desnivelamento do trânsito» que não deixaram que acabasse ... com os túneis do Saldanha, para que «as pessoas possam entrar pelas Amoreiras e, sem parar, chegar ao Campo Grande» ... esqueceu-se que já o podem fazer indo pela 2ª Circular ... além de que fazer-se do eixo Av.JAA-Av.FPM-Av.Rep. uma via-rápida é um erro grosseiro;
- o muito «orgulho» que tem na campanha de telões e emparedamento na Avenida da República e na Av.Liberdade ... esqueceu-se de dizer porque estão esses prédios emparedados ainda hoje e por reabilitar;
- elogiou o paliteiro, perdão, o jardim do Arco do Cego ... esquecendo-se de dizer o que foi feito da promessa de termos um museu e ateliers no pavilhão e agora termos «apenas» um parque de estacionamento;
- comparou Lisboa com Curitiba, depois de ter dito várias vezes que, tal como Sampaio, tem um desígnio: colocar Lisboa ao mesmo nível de Madrid e Barcelona;
- plagiou à descarada MMC com os «clusters» para a Baixa pombalina;
- invocou o nome de Deus em vão por várias vezes, a propósito da conclusão do túnel do Marquês e do Parque Mayer e ... confessou-se teimoso. Concordo inteiramente.

Insiste numa coisa que ainda não percebeu; à parte os fiéis do costume, ninguém o quer ... bastou UMA vez!;-)

Foi sol de pouca dura


Afinal, ontem à tardinha, o prédio encarnado do stand Saraicar já lá tinha por baixo 9 carros estacionadinhos ilegalmente. Do lado do dos CTT só um tinha tido a ousadia, mas teve. Vejamos as cenas dos próximos capítulos.

P.S.O esatcionamento ilegal nas arcadas dos prédios verdes da Av.E.U.A., sentido Av.Roma-Entrecampos, é escandaloso, quanto mais não seja porque a CML autorizou uma chachada de um parque subterrâneo para moradores ...

quinta-feira, março 29, 2007

A propósito do "post" que refere o leilão de árvores...

Da colectânea «Humor Antigo»

Entretanto no Parque Florestal de Monsanto...

Hoje almocei em Monsanto, no clube de ténis, onde às vezes também vou ao fim de semana, e uma das coisas que mais me impressionou - porque tem sido recorrente nos últimos tempos - foi a confirmação de que voltou a prostituição àquela zona. e em pleno dia. Tanto do lado do parque infantil, como também do lado do clube de ténis, voltaram a aparecer prostitutas a vender o que têm e sobretudo o que não têm. É pena, porque se há coisa que muita gente reconhecia à Câmara de Lisboa era a erradicação daquela espécie de Monsanto. Primeiro, a CML colocou uma série de pilares de cimento impedindo o estacionamento, depois mandou pintar uma faixa lateral na estrada com um traço contínuo amarelo. Agora voltou tudo ao que era. Parece que a vontade de resolver a questão estava mais relacionada com a proximidade da residência oficial de um determinado presidente da CML do que com o bem estar das famílias lisboetas...
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O regresso da barbárie : Francisco Almeida Leite no Corta-Fitas

Pela Câmara Municipal de Lisboa: Notícias

"Projecto que CML aprovou a Filipe Vieira está no corredor do TGV, diz Bloco
Ana Henriques e José António Cerejo -JORNAL PÚBLICO de 29.3.07
O Vereador José Sá Fernandes vai apresentar uma queixa no Departamento de Investigação
e Acção Penal sobre o processo que beneficiou presidente do Benfica .
A aprovação do pedido, que por si só atribui direitos de construção ao promotor, ocorreu em Novembro passado e contou com os votos contra do PS, PCP e BE.
Sá Fernandes (...) adiantou que a anunciada participação ao DIAP e à IGAT se prende com o facto de o trajecto do TGV não ter sido considerado na aprovação da informação prévia, mas também com o facto de terem sido "ultrapassadas regras urbanísticas referentes aos espaços verdes e aos equipamentos colectivos". Além disso, alega o autarca, o PDM foi "mais uma vez" interpretado "em benefício de determinados particulares". (...)
Foram poucos os esclarecimentos sobre o caso prestados pela vice-presidente da câmara, Marina Ferreira. Disse apenas que datavam já de 2003 as primeiras deliberações do município relativamente aos terrenos em causa. Nessa altura, a classificação daquela área passou de "industrial" para "predominantemente industrial", referiu a vereadora, que adiou explicações mais consistentes. Já Pedro Soares falou de "relações perigosas" entre o director municipal e os operadores imobiliários (ver PÚBLICO de ontem), acusando a maioria PSD de "irresponsabilidade política". "(...)
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PÚBLICO DE 22 de MARÇO 2007 (Local)
José António Cerejo
"Ex-Chefe de Gabinete da Câmara de Lisboa saiu mas ficou com uma avença e lugar na Gebalis"
O antigo chefe de Gabinete da ex-vereadora Helena Lopes da Costa acumulou durante vários meses, em 2005, as remunerações de alto quadro da empresa municipal GEBALIS e de avençado do gabinete da autarca. (...)

Nem de propósito ...



Há pouco dei com os prédios encarnados da Av.E.U.A./Av.Roma completamente libertos dos carros indevidamente estacionados sob as suas arcadas, o que é uma boa notícia para quem vive e passa por aquelas bandas (ver este post). Do lado do nº 92, o sr.empresário do Saraicar viu serem-lhe rebocados os carrinhos ali acumulados há meses.

Do lado oposto, no prédio dos CTT, o mesmo, e foi a primeira vez em 20 anos que vi aquelas arcadas limpas de carros; já nem sabia como aquilo era... ainda estão lá os cartazes colados e o cheiro a urina ... mas a EMEL está de parabéns!!

P.S. Enquanto isso, um automobilista descarado estcionava em cima do passeio, bem junto ao Vává.

ASAE encerra Clube dos Empresários. Só agora?

A notícia da ordem de encerramento dada pela ASAE ao restaurante do Clube dos Empresários (sala principal e sala da cave) por falta de condições de higiene, mau estado dos alimentos, etc. e respectiva ordem de detenção à senhora matrona dona do respectivo, só peca por tardia. Há séculos que a comida tresanda a bafio, o pessoal nem sabe o que diz e o ambiente parece de cabaré de beira da estrada.


Foto: CML

Esta não é de Lisboa, mas é de terceiro mundo:


Cerca de 1.800 eucaliptos e pinheiros em idade adulta, que ladeiam a E.N. nº 367, leiloados em hasta pública pelo eminente presidente da câmara da Chamusca, para com esta venda e abate de «materiais e outros bens que não são necessários» fazer face à crise financeira do seu burgo.

Fonte: JN e Associação Lisboa Verde

Olivais : labirinto sem GPS

Tremo sempre perante a ideia de ter que me deslocar ao simpático bairro dos Olivais. Uma pequena distração nos trajectos habituais e é clarinho como água que hei-de ser uma mulher perdida, sem encontrar qualquer orientação ou sinalética informativa. E se de dia ainda posso encontrar alguma alma caridosa que me ponha no bom caminho, à noite é o descalabro. Sem sistema de GPS ali à mão, recorre-se ao telemóvel e às abençoadas instruções esquerda, direita, viras ali, cortas acolá. Uma cegada.
Sempre me lembro de ter sido assim. E continua a ser. Sem norte, nem sul, sem placas que permitam a quem vem de fora de chegar ao ponto x sem passar desorientadamente pelos pontos y, a, b, c, w, z.
Tenho a certeza de que os habitantes se deslocam sem dificuldades (nem todos, porque conheço algumas almas que ainda vagueiam meio perdidas por ruas que desconhecem).
Mas quem vem de fora? Isto sem falar nas velocidades que se praticam em algumas avenidas e que me fazem encolher de susto. Ainda tenho na memória a tragédia vivida em Novembro em que um casal, vítima de atropelamento, morreu esmagado à frente das filhas.
Voltando à ausência de sinalética informativa, provavelmente eu sou dos que, vindo de fora, ainda se safam melhor pois reconheço o trajecto para um ou dois pontos do bairro. Mas um incauto que resolva destemidamente procurar, naquele grande bairro, a rua a ou a avenida b com um mínimo de indicações? Exaspera de tanto procurar. E gasolina? Bom. É fazer as conta.
Já tenho tentado encontrar qualquer tipo de equipamento urbano com um mapa do bairro, mas até agora, nada. Lembro-me sempre de procurar uma rua em Lisboa e só encontrar placas com os dizeres Palácio dos Coruchéus. Nada de nomes de ruas ou outro tipo de orientação. Só Palácio dos Coruchéus.
Voltando aos Olivais, ou melhor, às voltas nos Olivais, se virem alguém perdido por lá, posso ser (também) eu.
Quando regressar (depende da hora), volto a este tema e a este lugar. E digo isto sem me rir.
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(Maria Isabel Goulão)

quarta-feira, março 28, 2007

Recolha do lixo ao almoço : Resposta dos serviços

Relativamente ao mail sobre o camião do lixo na Rua das Portas de Santo Antão que enderecei ao municipe@cm-lisboa.pt a 18 de Março e reencaminhado para o DHURS - Departamento de Higiene Urbana e Resíduos Sólidos (*) no dia seguinte, recebi esta resposta hoje, também via mail:
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Na sequência do contacto efectuado por V. Ex.a junto da Câmara Municipal de Lisboa, em 18 de Março p.p. posteriormente encaminhado para o Departamento de Higiene Urbana e Resíduos Sólidos, cumpre-nos informar que, com base em indicações do Gabinete de Coordenação de Limpeza Urbana, foram dadas instruções a todos os funcionários afectos a esta actividade, no sentido de não ser efectuada a recolha de resíduos antes das 16 horas.

Com os melhores cumprimentos.
CML/DMAU/DHURS
Chefe de Divisão
(assinado)
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DHURS - Departamento de Higiene Urbana e Resíduos Sólidos
Gabinete de Relações Públicas do DHURS
Tel.: 213 253 555 - Fax: 213 253 527 - E-mail: dhurs@cm-lisboa.pt
Horário: Dias úteis das 09.00h às17.30h
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(Maria Isabel Goulão)

Terreiro do Paço de ar e vento

Relativamente ao artigo de hoje no DN "Terreiro do Paço sem 'arrumação' à vista" de Luísa Botinas, muitos se têm já debruçado sobre este tema.
No ano passado, o Jornal Público de 26 de Novembro (*), trazia o artigo "O QUE FAZER COM A PRAÇA REAL "MAIS BELA DO MUNDO"? elaborado na sequência de um colóquio internacional sobre Praças Reais organizado pela Universidade Autónoma de Lisboa.
"Pode o Terreiro do Paço ser "um lugar de sociabilidade"? Ou deve a praça servir a função para que foi pensada e ser o centro do Estado, um local de representação? "A função da praça está definida por ela própria. O Rossio é uma praça de estar. O Terreiro do Paço é uma praça real", interrogou-se o olissipógrafo José Sarmento de Matos.(...) que defende "que os andares de cima têm que continuar a servir para os serviços do Estado, enquanto nos pisos baixos das arcadas podem instalar-se, por exemplo, galerias de arte, livrarias e um centro de informação ligado à história da Baixa. Mas mesmo que isto fixe alguns pontos na praça, esta "pelo tamanho, não tem condições para nela se estar como no Rossio".

"Noutro tempo, a vida no Terreiro do Paço era muito diferente". Maria Alexandre Lousada, do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, descreveu-a como um local "com cafés, a Bolsa, a actividade portuária", em que, debaixo das arcadas "existiam lojas como a da Gazeta, que funcionavam como âncoras de sociabilidade, locais de encontro", e em que o Cais da Pedra "era um dos lugares de passeio dos lisboetas à noite". "Se lhe retiramos essas funções, as possibilidades da praça ser um local de sociabilidade quotidiana esvaziam-se", concluiu.
Para António Filipe Pimentel, do Instituto de História de Arte da Universidade de Coimbra "Ao contrário do Rossio, que tem "uma dimensão mais humana", a Praça do Comércio é "esmagadoramente grande, batida pelo sol no Verão, fabulosa como cenário mas dificilmente vivível".

O Terreiro do Paço "é, como sempre foi, um desafio à população de Lisboa, à câmara, ao Estado", resumiu o arquitecto José Manuel Fernandes. "Tentámos fazer ali a praça mais bela do mundo, há 250 anos. Conseguimos. É muito mais bela do que todas as praças francesas juntas. Tem a relação com o rio, o brilho, a luz, a proporção."
Mas é uma praça que nasceu para "materializar um sonho de autoritarismo", num país que "nunca teve muito respeito pelo poder público", e o problema agora é "o que fazer com uma praça belíssima mas esvaziada de conteúdo". Na opinião do arquitecto, o essencial é "libertá-la dos constrangimentos institucionais e do trânsito medonho" e abri-la novamente para o rio, porque essa relação única com o rio "é a sua razão de ser". Mas vivê-la nunca será fácil. "Como é que se pode viver numa coisa tão rígida, tão dura, tão bela?".
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(*) Texto adaptado
(Maria Isabel Goulão)

Antigas profissões e pregões de Lisboa #22 (*)


A Vendedeira de Galinhas


(*) Obviamente, a última.

No Dia Mundial do Teatro

A CML acarinhou, e bem, os artistas no São Luiz, e estreou, e bem, uma peça interessante e contemporânea no Maria Matos.

Mas é preciso não esquecer os Artistas Unidos e o projecto para as antigas instalações de A Capital, no Bairro Alto; projecto que foi prometido por Santana Lopes quando andava em campanha, e logo depois de tomar posse.

Mas mais que uma promessa (que para muito político é facilmente contornada), o projecto é uma efectiva mais valia para o Bairro Alto e para toda a cidade, além de ser um justo prémio para o esforço titânico daquela companhia em ser algo mais que uma companhia que leva peças a cena.

Por isso, são profundamente lamentáveis as declarações da presidente da Junta da Encarnação, ao DN de Domingo, reclamando um silo para automóveis nas velhas instalações de A Capital. Ainda por cima sabendo-se como os números referentes a estacionamento naquela zona (licenças emitidas, lugares, carros/morador, etc.) são tudo menos justificativos de mais silos.

Reciclar decerto não é preciso

Há pouco tempo, ouvi dizer que uma lisboeta das minhas relações teria sido multada por ter deixado uns sacos com papéis junto ao ecoponto e não lá dentro. Os sacos, parece, não cabiam, e ela deixou-os ali. Terá sido identificada pela morada inscrita em envelopes que estariam no saco.
Não confirmei a história, mas não há motivos para duvidar da sua veracidade, já que noutras localidades foram noticiadas e confirmadas multas semelhantes.

Estou pois à espera que os fiscais da Câmara de Lisboa me venham bater à porta. E espero sentada, porque há mais de seis meses enviei ao Departamento de Recolha de Resíduos ou lá como se chama o dito um email em que, após ter requerido, numa longa troca de missivas, que colocassem um ecoponto num local acessível à minha residência -- o que está mais perto dista à vontade uns 500 metros -- e me ter sido repetido que tal não é possível, invocando-se as razões mais esdruxúlas que se possam imaginar, como o facto de 'não haver espaço', informei simpaticamente a autarquia de que me considerava isenta da obrigatoriedade de separar o lixo.

Estranhamente, os fiscais não apareceram, apesar desta minha tão clara declaração de desobediência. Nem uma cartinha, nem um aviso, nem uma voz grossa ao telefone. Nada.

Claro que os fiscais não sabem que eu, apesar da ameaça, continuo a separar o lixo, porque me é impossível não o fazer. Moralmente impossível, quero dizer. Sucede é que tenho quilos de material para reciclar em casa, porque ir ao ecoponto é um projecto, com necessidade de marcação e mentalização prévia (para não falar do estado sempre nojento em que encontra o dito equipamento).

A moral da história, para quem precise de tradução, é que se corre mais riscos de levar com uma multa quando se tenta ser bom cidadão, separando o lixo e colocando o material para reciclar no ecoponto, que quando se enfia tudo à mistura no recipiente do lixo orgânico, como aliás fazem todas ou quase todas as pessoas da minha rua, e se avisa formalmente a autarquia dessa intenção.

Um último pormenor: eu moro no centro de Lisboa, na zona actualmente conhecida como Baixa, junto à Sé. Na minha rua há um ministério e uma junta de freguesia. Não faço ideia de onde é que o ministério coloca as decerto bastas toneladas de papel que deita fora mensalmente. E não faço ideia do que é que ocupa o dia-a-dia dos responsáveis da junta de freguesia. Como, aliás, não faço ideia do que fazem ao certo os responsáveis do Departamento dos Resíduos. Mas sei -- ver texto abaixo -- que entre as intenções do Plano de Requalificação da Baixa se encontrava 'adequado sistema de recolha e separação dos resíduos'. Parece que é preciso um plano especial de corrida, sectorialmente definido, para a Câmara de Lisboa fazer aquilo que para que existe. E isto no centro absoluto da cidade, o tal que é suposto ser ex-libris e 'atrair habitantes' e mais não sei o quê. Estão de parabéns.

A Baixa, o plano, a Maria Jose e a Laura

(texto publicado no número 4, de Dezembro de 2006, da revista LVT. Peço desculpa pºelo tamanho, mas tentei colocar a opção ver mais e não consegui. Se algum dos co-carmenses souber fazê-lo, be my guest)



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Há a Baixa da Maria José (Nogueira Pinto) e a da Laura. A Baixa do plano dos hotéis de charme, das “lojas âncora” e do novo mobiliário urbano e a Baixa sem parques infantis, sem sítio para comprar iogurtes e com passeios cheios de carros. A Baixa nova-rica, das grandes operações imobiliárias, pensada como uma cidade lego, e a Baixa da menina de 3 anos que lá vive, sem um baloiço para brincar. Algum dia se encontrarão?
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Ana tem 36 anos e uma filha com três. Mudou-se para a Baixa em 2001. Vive na rua da Prata, num terceiro andar sem elevador que reabilitou integralmente. É uma casa bonita, com 100 metros quadrados e muita luz, a dois passos da praça da Figueira. Ana adora a casa, mas gostaria ainda mais dela se pudesse abrir as janelas da sala. Se a fumarada e o barulho do trânsito não fossem tão insuportáveis, se o prédio não vibrasse a cada autocarro ou eléctrico que acelera lá em baixo. Se pudesse encontrar na rua de trás um lugar para o automóvel durante o dia e se à noite não temesse que lho arrombem outra vez – já seria a terceira -- para roubar o rádio.
Se pudesse levar a Laura a passear até um jardim ou um parque infantil ali perto (não há nenhum). Se não se lembrasse tão bem do dia em que voltou com ela do hospital e, dorida do parto, teve de fazer a pé um quarteirão, porque nenhum veículo, nem sequer os táxis, pode largar passageiros na rua da Prata. Se não tivesse de deixar o lixo num saco à porta do prédio porque o caixote standard da Câmara não cabe na entrada, parcialmente ocupada por uma loja. Se não tivesse passado mais de quatro anos em papeladas e vistorias para conseguir transformar o registo comercial do seu apartamento, que funcionara como armazém, num registo de habitação. Se os azulejos que revestem a fachada do prédio não tivessem começado a cair há dois anos e se o condomínio não andasse desde então em troca de cartas e conversas com a edilidade a averiguar da possibilidade de financiamento, para agora receber como resposta definitiva que não verá da autarquia ou de qualquer dos fundos estatais de reabilitação urbana nem um cêntimo – a existência de mais de uma fracção ocupada por comércio assim o determina --, mesmo se lhes é exigido que reponham os azulejos novecentistas, pintados à mão, tal qual.

Ana gostaria ainda mais da sua casa e da opção que fez se não sentisse que ser morador e proprietário numa zona classificada como monumento é uma espécie de sentença perpétua de exigências, proibições e maçadas sem contrapartidas. Que os discursos sobre a ‘falta de vida’ e a ‘desertificação’ e os planos para a reabilitação da Baixa passam sempre ao seu lado, como se ela e a Laura e o pai da Laura não fossem parte da solução, mas do problema.

Ana não está só no seu sentimento de abandono, frustração e injustiça. Fernanda sente o mesmo. Desde que, em 2002, comprou uma fracção de um prédio da rua da Madalena para lá instalar o seu atelier (é artista plástica) que se tem deparado com uma procissão de dificuldades, obstáculos, incompreensões e despesas inesperadas. Primeiro foi o interminável processo de divisão da fracção original, dois enormes andares divididos em quatro armazéns, comprada em conjunto com outros artistas. Entre levantamentos minuciosos de planta, pedidos para o IPPAR e para a câmara, apresentação do projecto de reabilitação, vistorias, informações contraditórias, incomunicabilidades, exigências e mais exigências por parte das duas entidades de elementos e mais elementos adicionais, tudo isto temperado pela tradicional dormência dos ‘serviços’, a coisa levou mais de um ano, período em que, não sendo possível fazer qualquer obra no espaço, Fernanda esteve a pagar a prestação do empréstimo respectivo sem poder usá-lo.
Quando a reabilitação do atelier pôde finalmente iniciar-se, o executivo de Santana Lopes decidiu fechar a rua -- para ‘a fazer mais bonita’, como anunciavam os cartazes por toda a cidade. Quem os lesse ficaria com a ideia de que a Câmara de Lisboa assumira a responsabilidade da reabilitação. Mas Fernanda depressa concluiu que assim não era: os proprietários foram intimados a fazer obras, de acordo com os diagnósticos efectuados pelos técnicos camarários. Linhas de crédito específicas para a operação, zero: quem estivesse em condições de recorrer aos programas disponíveis, como o Recria ou o Recriph (cujos critérios excluem grande parte dos imóveis devido à existência de várias fracções de registo comercial), tinha uma hipótese, os outros ou arranjavam dinheiro para pagar a reabilitação ou passavam por um processo de obras coercivas – o que, na prática, significa que a propriedade do imóvel passa a ser dividida com a câmara. Como nenhum dos programas de financiamento se aplicasse no seu caso, o condomínio de que Fernanda faz parte procurou informar-se sobre futuras linhas de crédito associadas ao anunciado plano de recuperação da Baixa. Quando a associação de moradores da Baixa se constituiu, Fernanda foi dos primeiros membros. Soube assim, em primeira mão, graças às conversações entre o gabinete da vereadora Maria José Nogueira Pinto e a associação, que o plano de requalificação da Baixa-Chiado, anunciado em Setembro de 2006 para a zona, não prevê qualquer investimento em casos como o do seu prédio. O mesmo se passa com o de Ana, apesar de o relatório do plano, ao elencar os “males” da Baixa, apontar a “excessiva vibração” causada pelo elevadíssimo volume de tráfego, nomeadamente pesado (passam, em hora de ponta, 98 autocarros e eléctricos na rua da Prata) como um factor de fragilização do edificado – o que poderá, por exemplo, contribuir para “descascar” azulejos. Mas, parece, isso agora não interessa nada: a responsabilidade, e a consequente despesa, é de quem teve a peregrina ideia de lá comprar uma casa, reabilitá-la e viver nela, iniciando assim, a título individual, o processo que agora se erige como imperativo nacional.

Pouco importa, pois, que o plano invoque a necessidade de seduzir jovens de classe média, actores culturais e profissões “novas”, prevendo a atracção de um conjunto de novos habitantes e/ou proprietários que, nas características etárias, sócio-culturais e económicas coincidem com Ana e Fernanda. Elas já lá estão, atraídas e seduzidas pela Baixa tal como está, tal como era – e, pelos vistos, mantê-las e acarinhá-las não é uma prioridade. Nas 163 páginas do documento lançado com grande pompa e circunstância por Maria José Nogueira Pinto, as dezenas, talvez centenas de pessoas que nos últimos anos se têm fixado na Baixa não mereceram mais que uma espécie de elegia aos ‘resistentes’ que louva comovidamente como aqueles que mantiveram a zona viva, apesar do longo elenco de mazelas, dificuldades e inconvenientes. O dinheiro disponível, se algum – afinal, no quadro dos investimentos, tudo aquilo que diz respeito a reabilitação do edificado é remetido para a misteriosa entidade “privados” -- depreende-se, será para as ‘grandes obras’. Para auxiliar o investimento de imobiliárias na recuperação de imóveis para arrendamento “condicionado” e para as “residências assistidas” dos residentes idosos que, retirados das suas actuais moradas, deverão ser reunidos em prédios da câmara transformados numa espécie de lares. Para financiar a criação de “mobiliário urbano” e até, imagine-se, uma “sinalética” especial, que toma como exemplo a intervenção na zona da Expo 98, actual Parque das Nações. E para aliciar a “operação mobiliária específica” que prevê transformar duas ruas, a da Vitória e a de Santa Justa, num centro comercial integrado de gestão única – o que acontecerá às lojas que actualmente ali funcionam e como se ultrapassarão as questões relacionadas com a propriedade distinta e os usos actuais de cada imóvel, logo se verá (ou não), como se percebe desta citação: “é necessário criar condições para que uma entidade única agregue a propriedade dos vários edifícios que constituem cada uma destas ruas, promova as operações de realojamento, se necessário, negoceie contratos de arrendamento, realize as obras de restauro e renovação necessárias e redistribua os usos pelos diferentes edifícios e pesos”.
Os fundos disponíveis deverão ser aplicados também na modificação e reparação dos pavimentos (“para reduzir o ruído nas faixas de rodagem” e tornar os passeios “mais cómodos para os peões”), e na criação de sistemas de recolha de resíduos e de iluminação “mais eficazes”. Tudo, dir-se-á, coisas que se esperaria que a autarquia fizesse no desempenho normal das suas atribuições, sem necessidade de planos especiais e que, juntamente com frases como estas -- “Para um funcionamento eficaz do sistema de estacionamento, é́ essencial garantir a existência de uma boa fiscalizaçã̃o do estacionamento na via pú́blica”; “[é necessária a] construção do grande colector ao longo da margem do Tejo,que vai permitir recolher os esgotos da zona central de Lisboa evitando o lançamento das águas poluídas ao rio no Cais das Colunas” --, contribui para a impressão de que quem gizou esta proposta partiu para o assunto com uma visão iniciática (como se estivesse em causa erguer de raiz uma parte da cidade) e infantil no seu despropositado optimismo. Afinal, se quem tem a função de fiscalizar o estacionamento (a polícia) e construir o colector (autarquia), não o fez até agora – o que é obviamente um escândalo -- por que motivo passaria a fazê-lo agora?

Não, a Proposta de Revitalização da Baixa Pombalina não se deteve muito na realidade e no realismo. Nem nas Anas , nas Fernandas e ainda menos nas Lauras. É notória, por exemplo, a ausência de qualquer tipo de equipamento dirigido a crianças: nem jardim infantil, nem escola, nem creche são mencionados na centena e meia de páginas do relatório apresentado em Setembro de 2006. Pelo contrário: especifica-se ser o “público alvo” da grandiosa operação imobiliária proposta, a visar aumentar em muitos milhares a quota de moradores (dos actuais estimados 4900 para cerca de 17000), gente “em início de vida” ou no seu quarto final, já que, parece, as tipologias existentes na zona não se prestariam a famílias com crianças. Isto, evidentemente, segundo a superior análise de quem delineia o futuro e que, para além de estar ciente dos imensos palacetes em que vive a maioria das famílias portuguesas (cem metros quadrados não lhes chegariam então, nem pouco mais ou menos), terá imaginado uma forma engenhosa de impedir as pessoas de procriar depois de instaladas na Baixa. No mesmo sentido de autismo vai a notória a ausência de preocupação com a oferta de comércio de víveres: o único mercado existente na zona, o do chão do Loureiro, perto do Largo Adelino Amaro da Costa (à rua da Madalena) onde, nos últimos tempos do seu funcionamento, ocorria ao sábado uma venda de produtos biológicos, foi desactivado há anos, prevendo-se para ali um parque de estacionamento. Em compensação, aventa-se a possibilidade de reconstrução de uma estrutura de mercado na Praça da Figueira. Aí poderão, propõe-se, ter lugar “feiras de produtos regionais ou biológicos”. Sucede, porém, que a zona da Praça da Figueira/Rossio é a mais bem servida em termos da oferta de produtos alimentares: funcionam ali dois pequenos supermercados (um na própria praça da Figueira e outro na Rua 1º de Dezembro) e uma charcutaria. O resto da Baixa conta apenas com uma mercearia na rua da Prata, outra na rua da Madalena e um mini-mercado na rua dos Fanqueiros; no Chiado não há nada, nem sequer uma loja de conveniência. Qualquer morador da zona ver-se-á obrigado a, para comprar um pacote de leite, iogurtes ou salada, andar quilómetros ou meter-se num carro. Poder-se-á dizer que o plano não tem de se preocupar com esse tipo de minudências, mas um documento que fala da “cultura de café”, que inventa museus para “aumentar a oferta cultural da zona” e vai ao ponto de preconizar ideias “giras” como a de assinalar as “fronteiras” ou “portas de entrada” na Baixa Chiado de uma forma qualquer (não explica qual), talvez devesse lembrar-se que os residentes, actuais e futuros, necessitam de comer. E portanto de ter acesso fácil e prático à venda de víveres e produtos de primeira necessidade, não apenas de “boa restauração”, hotéis de charme e “lojas-âncora”. A título de exemplo, a maioria dos centros urbanos de grandes cidades europeias alberga pequenos mercados de rua, geralmente ao fim de semana, de modo a que os moradores possam abastecer-se sem ter de sair do seu bairro: uma ideia que não colheu no futuro imaginado pelos artífices desta ideia de requalificação.

Pensada “de fora”, e “de cima”, especialmente preocupada com o turismo (a Baixa como “sala de visitas” da capital) e o comércio, a proposta de requalificação, se apresenta algumas boas e inovadoras ideias (como a das residências assistidas para idosos) ou afirmações/intenções corajosas e até iconoclastas que, a serem concretizadas, poderão fazer muita diferença (impedir a circulação de tráfego entre Cais do Sodré e Campo das Cebolas para “cortar” a avalanche de carros que assalta o Terreiro do Paço -- cerca de 65 mil por dia --, demolição de edifícios sem qualidade arquitectónica recusando a substituição em pastiche pombalino, destruição de “acrescentos” que põem em causa a estética e a segurança, nomeadamente sextos e sétimos andares em prédios cuja estrutura foi desenhada para três ou quatro pisos, impedimento da impermeabilização dos poucos logradouros permeáveis existentes), está longe de responder a alguns dos principais problemas de quem ali vive e de quem ali passa. Por outro lado, sendo alguns dos seus diagnósticos e soluções pacíficos e mais que rebatidos – só não se percebendo por que motivo continuam na esfera dos possíveis e dos desejos, como é o caso da fiscalização eficaz do estacionamento, da recolha eficiente dos resíduos ou da flexibilização dos horários comerciais e a requalificação dos estabelecimentos – outros surgem como contraditórios com o próprio texto do relatório. Assim é a ideia de fazer um parque de estacionamento sob a praça do Comércio, apresentada sem qualquer menção à controvérsia gerada pelo folhetim do túnel do metro naquela zona e como se não fosse o próprio relatório a estabelecer, pelo punho do engenheiro João Appleton, a necessidade premente do “mapeamento geológico e hidroló́gico de toda a zona da Baixa” em relação ao qual afirma não haver “informação tratada e actualizada”, concluindo: “A Carta Geológica da Baixa será, então, um elemento de referência essencial para todas as intervenções que venham a ser realizadas, quer em termos de escavações no espaço público ou sob edifícios, quer de operações de reforço estrutural e de fundações”.
Parece pois evidente que apresentar a ideia de um parque subterrâneo sob o Terreiro do Paço é “pôr o carro à frente dos bois”, neste caso, à frente das precauções e dos estudos e da própria racionalidade do plano.
A questão do estacionamento é de resto globalmente mal tratada no relatório, já que, se uma das suas ideias mais fortes e correctas é da a limitação do fluxo automóvel à zona (estimado em cerca de 65 mil viaturas por dia), a criação de mais estacionamento deveria ter em consideração a taxa de ocupação do já existente. Essa informação está, porém, ausente do documento, que se limita a garantir que a Baixa é “globalmente bem servida de estacionamento” (“1800 lugares na via pública, 5000 em parques de estacionamento público e 1200 em parques privados”) e que se compreende mal que a taxa de ocupação ilegal da via pública seja de mais de 35%. Ora é muito fácil obter, através da Bragaparques, a empresa concessionária dos parques da Praça da Figueira (500 lugares) e do Martim Moniz (720), uma estimativa da taxa de ocupação média das duas estruturas. Esta nunca é, mesmo em hora de ponta, mais de 60%, caindo a pique nos períodos nocturnos. Nem nas noites em que há espectáculos no Coliseu, por exemplo, e nas quais o estacionamento selvagem transforma os passeios dos Restauradores e da Avenida da Liberdade em parques gratuitos, o da Praça da Figueira fica lotado. Diz a Bragaparques já ter tentado, várias vezes, sensibilizar a autarquia para o problema do estacionamento ilegal, mas que não tem “poder para impor nada” e que “fica tudo na mesma”.
Que soluções apresenta o relatório da proposta de requalificação para esta inoperância? Nenhumas. Que explicação encontra para o estado das coisas? Nenhuma. A mesma lógica – ou falta dela -- se constata na proposta de “avaliar a necessidade de modernizar a rede de transmissão de dados”: não se diz que a inexistência de rede de cabo na zona se deve a uma recusa da autarquia, sem que esta adiante ou fundamente o motivo para tal (*).

É possível encarar com seriedade um documento que se limita a constatar problemas e a enumerar desejos sem se dar à maçada de tentar perceber o que correu mal e porquê, de modo a encontrar soluções reais, que funcionem? Um documento que olha para a Baixa/Chiado como um deserto de pessoas e sentido, no qual é possível e desejável fazer tudo de novo, como se o que existe, arquitectura à parte, não tivesse nenhum valor, nenhuma alma, como se a cidade não fosse mais que o desenho das ruas e das praças e das fachadas, lojas “boas” e gente aprumada? Quando Maria José Nogueira Pinto lamenta, num artigo publicado no DN (“Desabafo de uma lisboeta”, 10/11/06), o Chiado onde se “mistura lojas de luxo com quiosques pindéricos” e onde, escândalos dos escândalos, há “o homem dos cães” (numa alusão a uma das figures mais típicas da Baixa dos últimos anos, o homem que passeia cinco ou seis cães, todos eles brancos), invocando a memória de uma infância em que nas mesmas ruas reteve “os engraxadores, os cauteleiros, a velhota que vendia pegas de crochet, as vendedoras de violetas, o preto da Casa Africana, o cego do acordeão, os intelectuais bem falantes da Brasileira, os ociosos da Casa Havanesa, a Tatão do Grandela, imortalizada no ‘Pai Tirano’, e uma pequena classe média que também ela se enfarpelava para ir à Baixa comprar tecidos e retroses e as classes populares para desfrutarem das suas folgas”, está, sem se dar conta, a expor a contradição entre a Baixa homegeneizada e artificial que propõe e a alma que lhe louva. Entre uma noção de cidade asséptica, saída tal qual da mesa de desenho, e o lugar de misturas felizes que faz bater ainda aquilo a que chama o “coração de Lisboa”.
Operar o coração sem o substituir por um simulacro que da vida não tenha mais que a batida mecânica é o desafio certo. O desafio que a proposta de requalificação falha claramente.
Preferível então lê-la como uma espécie de guião das falhas dos sucessivos executivos autárquicos, no seu elenco de “ideias” e “exigências” que, como já se viu, mais não são que um atestado da incapacidade que a Câmara de Lisboa tem demonstrado no que respeita a esta área da cidade, sempre eleita como “prioritária” e sempre abandonada na mesma, ou quase, a cada mudança de cadeiras. Vista assim, a proposta pode ser um bom ponto de partida – e, sobretudo, uma interpelação a quem está para que faça o que é seu dever fazer. Fazendo o obséquio de se lembrar das Anas, das Fernandas e das Lauras, as tais cujos corações fazem o da Baixa.

(*) Em Agosto de 2006, o serviço de atendimento ao lisboeta foi questionado, por mail, quanto aos motivos pelos quais a Câmara de Lisboa recusa a introdução de cabo na Baixa, Sé e Castelo. Quatro meses depois, à data da conclusão deste texto, não havia ainda resposta.

«Nogueira Pinto vai abandonar Câmara de Lisboa»

Não, não, o meu coração não aguenta tanta emoção junta!!

Por favor, Drª Maria José, tenha em atenção o que o lisboeta sofre todos os dias e não nos coloque sob mais este «stress».

Santa pachorra!!

Fonte: Sol

terça-feira, março 27, 2007

Parece perseguição ao Vereador Prôa, mas não é!


«Hoje de manhã estive com outros moradores na Rua Victor Hugo onde observámos a empresa VISABEIRA a instalar novos candeeiros (...) Os candeeiros de 1948 foram simplesmente marcados para abate com uma cruz vermelha. Segundo os funcionários da VISABEIRA, a CML deu ontem ordens para retomar a empreitada (...), não recebemos até hoje qualquer resposta ou esclarecimento.»

O candeeiro da direita é designado por"ALVALADE" pois foi especialmente concebido em 1940 para a zona de Alvalade planeada por Faria da Costa, o nosso primeiro urbanista moderno. A consola em ferro forjado é um modelo da própria CML de 1950. Com esta empreitada foram já instalados 7 consolas novas iguais ao candeeiro da esquerda.


E esta é uma foto da nova consola de iluminação pública - verdadeira "maravilha do design contemporâneo" que a CML defende para Lisboa! .. que já foi instalada em bairros como CAMPO DE OURIQUE, ESTRELA, ALCÂNTARA, ETC!!!!


O curioso é que na vizinha freguesia de Arroios a CML fez recentemente o restauro deste tipo de consola, com instalação de nova luminária (Avenida Manuel da Maia e Avenida Rovisco Pais). Porquê esta empreitada de abate?

Certo é que o Vereador António Prôa não percebeu que a questão não é da Avenida de Madrid mas sim do futuro desta tipologia de candeeiros modernistas! O retomar da empreitada na Rua Victor Hugo só vem provar que:

- ou ninguém percebeu o motivo do protesto;
- ou estão a ceder ao lóbi dos candeeiros de metal.

Foto e info de FJ

E já agora ...


Aproveitando a «marinada», apelo a que sus muchachos da EMEL, que ontem estavam todos ufanos multando e bloqueando os ilegal aliens que costumam estacionar no passeio da Av. E.U.A. junto ao Quarteto ... não se esqueçam de multar e bloquear os do lado de lá do viaduto, do nº 118 para trás, refúgio dos prevaricadores corridos do outro lado ... que sabem que ali ninguém os multa, porque os parquímetros não funcionam.

Lisboa: a malta não tem contemplações nenhumas com quem anda na linhaça


Por favor, ponham lá essa coisa dos radares a mandar multas para casa, a ver se o pessoal aprende...

Faço daqui um apelo à Senhora Câmara: ponham lá em bom funcionamento os radares, retomem a campanha contra o excesso de velocidade. Entendam-se lá com as entidades todas. Seja com fotos, seja sem fotos; seja 50, seja 80. Mas entendam-se e ajudem-me...

O caso é que já não suporto mais a má educação de quem me acende os faróis por eu ir a 50-60 na 24 de Julho e noutras vias. E fazem-me gestos. E chamam-me totó. E apitam-me.

Ontem, uma tipa, quando lhe chamei a atenção para o 50 da placazinha avisadora, ali para os lados do Mao, o que é que ela fez? Abrandou? Deixou de me acender os faróis? Pediu desculpa, tipo «distraí-me, siga lá na sua calma e eu também vou cumprir essa coisa»? Qual quê! Passou-me pela direita, e, ainda em curva, a acelerar feita besta, fez-me de lá um daqueles gestos de irritar qualquer um: dedo médio espetado etc..

Um dia destes, volta-me tudo: o stress pós-traumático de Cabinda, G-3, Rangers, Operações Especiais, granadas, minas, trilhos na floresta, bazookas, Curva da Morte e tal.

Por favor, dra. Marina Ferreira (bem sei que agora, como Vice-Presidente tem menos tempo, mas por especial favor lhe peço:), ponha lá essa coisa a dar umas lições a estes tipos e a estas tipas.

É que eu agora, e durante mais uns meses, tenho de andar na linhaça e não posso ser caçado em excesso de velocidade outra vez: estou com execução de pena suspensa» de um outro caso...

E este pessoal não tem contemplações nenhumas, como lhe conto...
Assim, salta-me a tampa mas tenho de aguentar. Que cena!

Vejam o desespero a que eu cheguei: estou a pedir multas por excesso de velocidade. Logo eu. Devo estar mesmo doente. É uma injustiça. Mas, hoje, é a mais pura das verdades.

Ajudem-me, por favor!

5 fotos, 5 recordações da Eugénio dos Santos (1973/74)


«A Escola Técnica Elementar de Eugénio dos Santos foi criada em Agosto de 1948, a primeira das 18 escolas do Ensino Técnico Elementar promovidas pelo Decreto de 11 de Julho de 1947, nº 30.406. Ficou concluída no tempo recorde de 18 meses (15/11/1950 ) e foi inaugurada a 6/12/1951. O seu primeiro director foi António Gonçalves Mattoso, pai de José Mattoso. Em 1968 passou a chamar-se Escola Preparatória de Eugénio dos Santos e, em 1993, Escola EB 2+3 Eugénio dos Santos (...)

Naquele tempo tudo era gigante: o gradeamento, as portas, as paredes, o interminável corredor do 1º piso do edifício principal. Melhores recordações: os olhos negros da Maria João e a delicadeza da Joana (esqueci os apelidos porque, ao contrário da Primária, ali não eram identificativos, pois cada qual escrevia numa placa de cartolina o respectivo nome próprio, que colocava em cima da secretária); os jogos junto ao portão e as sessões infantis no Alvalade, guiadas por minha Mãe ou por minha Avó materna. Isso e as aulas de inglês (pela bonitona I.Bernardo), ciências da natureza (por A.Pratas) e matemática (por C.Cícero). As piores? Uma contínua, perdão, auxiliar administrativa, que era um autêntico verme, e uma inspecção médica de cacáracá, hoje impossível, que muito irritou a meu Pai e com razão.


Cá fora, no recreio e naquele canteiro junto ao gradeamento da Av.Roma, fazia batalhas intermináveis com o meu amigo Carlos Botão, com tanques minúsculos que eram brinde de pastilha elástica...


Um belo dia a escola virou colorida e, à vez, ora comandávamos os chaimites de Spínola, ora os de Marcello (houve-os?). Um belo dia, também, fizemos a primeira "manif" de que havia memória por aquelas bandas: eram centenas de fedelhos, liderados pelos repetentes do 2º ano, slogan: "Não queremos aulas aos Sábados". E conseguimos.


Aqui eram a cantina e o ginásio, e a sala de música, em anfiteatro improvisado, mas eficaz. Desta, só me lembro que gostava de tocar xilofone e que passávamos a vida a cantar o Hino da Alegria. Naquele, fui gozado mais do que uma vez por não saber dar o laço aos atacadores das sapatilhas de ginástica. O equipamento era branco, e eu faltava quando podia. Cá fora, uma vez, graças a uma intervenção coriácea de minha Avó, determinado repetente deixou de se meter comigo.


Aqui eram as aulas de desenho e trabalhos manuais. Nunca tive grande jeito, mas tenho saudades de moldar o papel celofane e de desenhar sobre o vegetal, do cheiro dos guaches e dos lápis-de-cera, do toque do papel cavalinho e daquelas borrachas verdes da Pelikan, dos lápis Staedler e dos apetrechos para o compasso. Foram também as primeiras experiências malucas com tinta da china.

Hoje, é com muita satisfação que a vejo ainda de pé e com muita saúde e alunos. E que aderiu às novas tecnologias, tanto ela como os pais dos alunos.

Fonte: Arquivo Municipal, Escola Eugénio dos Santos e Jornal da Praceta

Cassiano já merecia um sítio


Como é óbvio, toda e qualquer foto, notícia, nota ou comentário será de enorme importância para a credibilidade deste levantamento, dada a generalizada falta de informação sobre este arquitecto.

segunda-feira, março 26, 2007

Ainda a calçada em Lisboa


Ladrilho, calcetaria, calçada / desenho específico e típico

1. A calçada enquanto desenho típico

Escreveu Marina Almeida, no ‘DN’ de ontem: «A calçada portuguesa foi pela primeira vez aplicada na parada do quartel do Batalhão de Caçadores n.º 5 no Castelo de São Jorge, em 1842. Foram usadas, por iniciativa daquele que é assinalado como o "pai" da calçada, Eusébio Furtado, pequenas pedras brancas e pretas. O motivo - um ziguezague de grande impacto visual - saiu da cabeça deste engenheiro militar, à época governador de armas do Castelo de São Jorge».

Agradeço ao 'DN' esta bela foto.

2. Outras calçadas, calcetaria, ladrilho

Registo. Mas nada retira que no século XVII documentos que já publiquei (foto digital de um jornal de Março de 1665) refiram uma «calcetaria» na zona baixa da cidade de então – que se confinava a umas centenas de metros à volta do Terreiro do Paço (ainda não é a Praça do Comércio – nome que oficialmente lhe dará o Marquês após a reconstrução, retomando, aliás, o nome popular do local desde há séculos…). Penso que esta calcetaria se localizaria provavelmente no local onde hoje fica a Igreja de São Julião e que outros investigadores têm referido a existência de «calçada» (não de «desenho») na época do ouro do Brasil.

3. O fausto do século do ouro do Brasil

A este propósito, transcrevo só este pedaço de investigação:

“Gil Vicente (1465? - 1537?) corrobora com esta descrição: «Lisboa era uma cidade movimentada e colorida, onde a riqueza se ostentava, vendo-se o Tejo coalhado de navios de diversas nações, que vinham trazer e levar os produtos da Europa e do Oriente».
(…) «O rei quando saía do paço, fazia-se acompanhar por um cortejo asiático, cuja frente vinha a ganga, rinoceronte da África, seguido de cinco elefantes recamados de xairéis de brocado e do cavalo persa com o caçador e a onça; em seguida apareciam o rei e a corte, a cavalo, seguidos pelas bandas de atabales e clarins.»
Tanto fausto e grandeza na cidade de Lisboa merecia um piso imponente que proporcionasse ligações terrestres mais cómodas e rápidas, dado que Lisboa passou a ser o eixo comercial da Europa, destronando a velha Veneza. Tentando suprir esta lacuna, o soberano lançou determinação régia e da natureza do bem comum, um imposto que deveria ser cobrado pelo Senado de Lisboa que começou a cobrar e administrar uma renda pelos carros que carroceiam na cidade, aplicando-a exclusivamente nas calçadas que os carros desconjuntam e destroem. D. Manuel I, pela carta régia de 20 de Agosto de 1498, determinou que continuassem as obras das calçadas, pagando a cidade a mão-de-obra e dando aos proprietários de casas e a donos de carros as achegas (materiais e transportes); a nobreza e o clero não foram isentos e levantaram grande oposição a contribuir para esse serviço municipal, embora fossem os fidalgos quem mais lucravam com o arranjo das ruas. Em carta régia de 8 de Maio de 1500, D. Manuel aprova a despesa orçada para o calcetamento da Rua Nova Grande dos Mercadores, devendo empregar-se nessa obra pedra do Porto porque a outra dana-se na maneira que vedes, sendo os trabalhos da calçada pagos a cinquenta reis
(réis) por braço.
Burgueses endinheirados, clero e nobres e familiares do Santo Ofício apresentaram variadíssimas razões para não pagarem, argumentando que eram servidores do Rei ou de Deus; perdeu o ortelão d’el rei que nem por morar nos Paços da Ribeira deixou de pagar o escota.
D. Manuel discordou de tantas e hábeis desculpas e por alvará de 26 de Agosto de 1515 manda a Câmara de Lisboa proceder contra as pessoas que fugissem de contribuir para o ladrilho da Rua Nova dos Mercadores assim como outras vias afluentes ao Paço da Ribeira que trazia em construção.”

Cremilde De La Rosa Raposo Colaço Barreiros, in ‘Fozibercalcada’ (blog).

Antigas profissões e pregões de Lisboa #21


A Modista

As armadilhas do PUALZE

Para quem esteja pouco familiarizado com a nomenclatura camarária, a sigla PUALZE poderá não significar nada mais que o nome de um soporífero ou analgésico de proveniência desconhecida. Simplesmente, PUALZE significa "Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade e Zona Envolvente"; é da responsabilidade da CML e o seu autor é um arquitecto do Porto. Até aqui, apesar de estranho (chamar-se a um plano de revitalização "plano de urbanização"...), nada de novo. O pior, mesmo, é que o PAULZE é na verdade um soporífero que se destina a adormecer consciências e a distrair os mais incautos... quando a esmola é grande o pobre desconfia.

Mais evidente isso se torna quando se pára para ler o dito cujo, ou se vai até à Avenida para imaginar o que o PUALZE vai ser na prática, isto se não houver ninguém por aí, claro, com aquilo que Alberto João referiu há tempos e que escandalizou meio Portugal, senão veja-se:

O PUALZE, tendo em vista o seu propósito oficial, inclui termos perigosos como "regulamentar", "requalificar", "potenciar", "novos equipamentos e actividades estruturantes", etc., para justificar "apenas" o aumento das cérceas da Avenida, a demolição de alguns dos edifícios antigos que ainda sobram por lá, a construção de estacionamento subterrâneo, a demissão de toda e qualquer aposta na função habitação (a CML serve-se inclusive do argumento "nível de ruído" para só falar em serviços), a ausência de coragem em avançar com medidas efectivamente restritivas à circulação automóvel, etc.

Puxando ainda um pouco mais pela cabeça, ao cidadão mais ou menos inteligente não poderá passar despercebida a gravíssima agressão que representará a hipotética construção de parques de estacionamento subterrâneo nos cruzamentos da Avenida da Liberdade!, efeitos que se farão sentir à primeira tempestade (de facto) que atinja Lisboa (cruzes canhoto!), tão fácil é aperceber-se do que isso irá afectar o curso das água subterrâneas. Tal como facilmente se imaginará o futuro negro que estará reservado a prédios como o Palácio Conceição e Silva (neo-mourisco), o edifício da Mme.Campos ou os celebérrimos prédios da esquina com a Alexandre Herculano (objecto de "obras coercivas" ao tempo de Santana Lopes) se a tal "requalificação" for levada por diante: vamos ficar com uma segunda versão Da Avenida da República. O mesmo acontecerá aos jardins, logradouros e quintais da Avenida e zona envolvente, a começar pelos da Rua do Salitre, cujos donos terão, enfim, luz verde para os esventrar a seu bel-prazer.

Nesta fase, o PUALZE encontra-se ainda no papel, mas, nos moldes em que está, é esta a altura própria para o travar, porque quando a obra começar será já tarde demais.

Ah, já me esquecia, o PUALZE esteve em cena no Teatro Variedades aqui há meses, com rufar de tambores e tudo...

O futebol nacional e o fim do marxismo

Ausente no estrangeiro durante grande parte desta semana, regresso a Lisboa e fico a saber que um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça poderá vir a revolucionar o futebol português e a escravidão em que vivem os trabalhadores futebolistas: os clubes deixariam de ter bases legais para segurarem os jogadores e as cláusulas de rescisão poderiam vir a desaparecer na sequência desse acórdão.
Pela minha parte só vejo uma saída: há que transformar os trabalhadores futebolistas em empresários por conta própria!
As empresas que se dedicam hoje à industria do futebol, ou seja, todos os antigos clubes, como o Porto, o Sporting ou o Águias de Alpiarça, passariam a estabelecer contractos de prestação de serviços com estes novos empresários, sendo que nada impediria que numa das cláusulas contratuais ficassem acordados uns quantos milhões em caso de rescisão por parte dos ditos empresários por conta própria.
Como podem imaginar, esta solução empresarial é verdadeiramente genial e poderíamos até torná-la extensiva, por exemplo, ao funcionalismo público. Se todos os trabalhadores da FP passassem a empresários por conta própria e sempre que um deles se quisesse desvincular, o Estado-Empresa receberia então uma choruda indemnização desse empresário individual, tal como aconteceria (ou continuará a acontecer) com os seus congéneres da indelével leveza do esférico.
Vou mais longe: imaginem a tripla vantagem que existiria se todos os trabalhadores portugueses passassem a ter o estatuto de empresários por conta própria: em primeiro lugar o Estado-empresa passaria a arrecadar, não só o IRS, mas também IRC de todos esses milhões de jovens empresários –e adeus défice orçamental; depois e dentro desta lógica, assistiríamos ao desaparecimento dos incómodos sindicatos e finalmente meteríamos de vez o Marx na gaveta por inexistência de trabalhadores assalariados!
E o maldito marxismo não teria saída: é que recriar a luta de classes, fazendo confrontar empresários por conta própria (vulgo pequenos capitalistas pobres, ou desempregados capitalistas) contra os grandes empresários do capital, não seria marxismo, mas sim um “aprofundamento” do neoliberalismo europeu que, para nossa desgraça, temos que aturar.

Luís Coimbra

domingo, março 25, 2007

Carta a Lisboa

Por José Sá Fernandes, no DN de hoje:
- Aceitou-se e continua a defender-se a permuta de terrenos valiosos do município (parte de Entrecampos) por outros altamente condicionados (Parque Mayer), do que resulta uma perda de dezenas de milhões de euros para os cofres da cidade.
- Alienaram-se em bruto dois dos terrenos mais rentáveis de Lisboa (Vale de Santo António e parte de Entrecampos), em vez de se optar por os vender de forma loteada e, consequentemente, com um maior encaixe financeiro que o obtido.
- Isentaram-se empresas das obrigatórias contrapartidas em equipamentos e espaços verdes em empreendimentos, ou do respectivo pagamento de taxas, casos, por exemplo, da Estefânia (Bragaparques) ou da Av. Infante Santo.
- Permitiu-se a destruição de património, como no Colégio dos Inglesinhos, Largo de Jesus e Casa Almeida Garret. E procura-se fazer o mesmo noutros locais, como no Palácio Ribeiro da Cunha, ao Príncipe Real, ou no Largo Barão Quintela.
- Projecta-se a densificação e construção em altura nas avenidas da República e da Liberdade ou à medida de interesses privados (Marvila, Sporting e Alcântara XXI).
- Manteve-se a confiança em administradores de uma empresa (EPUL), mesmo quando se soube que se autopremiaram sem autorização e permitiram sem justificação plausível o pagamento de comissões a privados pela venda de património.
- Escondem-se os justificativos que levaram a EPUL a pagar milhões de euros ao Benfica pela construção dos ramais de infra-estruturas de ligação ao novo estádio.
- Insiste-se na existência de empresas sem funções (Emarlis, que se limita a encomendar estudos) ou estratégia (SRU) com os consequentes custos para o orçamento municipal, sendo que outras, comprovadamente, têm servido para contratar clientela partidária (Gebalis).
- Arrasta-se a penosa situação financeira da câmara.-Agrava-se a desconfiança dos fornecedores - alguns sem receber há mais de um ano - e a desmotivação dos trabalhadores do município, mal aproveitados e quase nunca valorizados.
- Promete-se, mas não se cumpre, diz-se mas não se faz - a maior parte das obras/acções prometidas para os primeiros 180 dias ficaram na gaveta

sexta-feira, março 23, 2007

Embróglio, Ilda.

Podia ser o novo designativo da CML!!

À espera de indemnização para sair do Parque Mayer

Os comerciantes do Parque Mayer querem que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) obrigue a Bragaparques a cumprir o que está estipulado na permuta daqueles terrenos, indemnizando os inquilinos dos três restaurantes que ali resistem. A pressão deve passar, na óptica dos empresários, pelo "não licenciamento do estacionamento nos antigos terrenos da Feira Popular" enquanto a sua situação não for resolvida.

A Bragaparques, notificada pela CML no passado dia 15, tem até dia 30 para sair do Parque Mayer. A carta enviada pela autarquia refere que, com a permuta dos terrenos, "os prédios urbanos propriedade do Parque Mayer foram transmitidos ao Município de Lisboa livres de quaisquer ónus ou encargos."

(...)

Desde Agosto de 2005, um mês depois da permuta de terrenos, que os três restaurantes do Parque Mayer depositam as rendas numa conta da CML, por indicação da Bragaparques. O DN tentou, sem sucesso, obter esclarecimentos da Bragaparques sobre este assunto.

(...)

Questionado sobre porque é que só agora a CML deu ordem de saída à Bragaparques, Carmona Rodrigues disse: "Não houve oportunidade de o fazer antes, andamos ocupados com outros assuntos."

(...)

- DN

AS 7 ERVILHAS

Se Lisboa fosse uma princesa, não ligava a estas coisas de 7 Maravilhas de Portugal e dos Algarves, tudo o resto seria a sombra da sua projecção e vaidade. Mas não sendo uma princesa, é uma plebeia que liga aos concursos de Miss Maravilha e Simpatia, que fica ofendida quando os portugueses se distraem sobre a Évora de Diana ou a Tomar dos Templários. Mas imaginemos que Lisboa seria realmente a princesa prometida, desdenhando concursos de gente simples, e irritando-se com as ervilhas que terão sido colocadas debaixo do seu colchão, provocando dores de costas e noites mal dormidas. Se Lisboa fosse uma princesa, quais seriam as 7 ervilhas menos maravilhosas da sua corte?

1. A Expo

Toda a gente continua preocupada pelo facto da marina da Expo ser apelidada de “maior pântano da cidade”. Citando Sousa Tavares, parece-me que está na altura de nos preocuparmos menos com a marina e mais com a “terrina”. Porque dez anos depois da Expo 98, a exploração imobiliária da zona continua por (de)terminar. Qual o limite do Parque das Nações? Vila Franca de Xira?

2. O Porto de Lisboa

Há 200 anos, a última das Linha de Torres, que nos protegia contra as investidas de Napoleão, estava localizada na barra do Tejo, em Oeiras e Cascais. Hoje, o “território independente” do Porto de Lisboa, ou seja a muralha de contentores que vai de Braço de Prata à Docapesca, em Pedrouços, é a linha de torres que impede os cidadãos de usufruir do Tejo. A diferença é que esta barreira já não é uma defesa mas uma verdadeira ofensa. Na presença dela, apetece pedir aos franceses para novamente invadir.

3. A Praça do Comércio

Os arquitectos em vigor e os políticos caducos adoram apresentar teorias conjecturais sobre o fracasso da Praça do Comércio como espaço lúdico. Dizem que não tem árvores, que falta comércio local, que se devia reduzir o trânsito. Mas quando a SIC expõe a maior árvore de Natal da Europa, os lisboetas mostram estar à altura do desafio. O que falta no resto do ano, então? Para começar, falta acabar as obras do metropolitano, que se prolongam há três mandatos camarários em Lisboa. Mas mesmo essas obras já vão terminar mal: na altura do início dos trabalhos, ninguém levou a sério a proposta de transferir o trânsito-sul da Praça para um túnel, como em Barcelona, de maneira a prolongar a área pedonal da praça até ao rio. O inevitável fim das obras não significa devolver a Praça do Comércio aos lisboetas mas ao galopante trânsito automóvel.

Quatro, cinco, seis e sete ervilhas. O que me sobra em tempo e vontade, falta em espaço e temperamento. Lisboa não é uma princesa e por isso convive bem com este horror – afinal, a sua desilusão não passa de um desígnio que vem de trás. Se a fundação da cidade data do terramoto, talvez tenhamos de esperar por outro cataclismo para endireitar este palco.


Miguel Somsen

In Metro

Que fazer com elas?


Pergunta-se MJNP, na edição de hoje do Diário de Notícias, e «elas» são as empresas municipais de Lisboa.

A resposta é simples: extingui-las a todas. A sua existência é o reconhecimento da inoperância, incompetência e má gestão das câmaras municipais. Mas, já imaginou o que seria dos boys & girls se esse cenário fosse para a frente? ;-)


Antigas profissões e pregões de Lisboa #20


A Vendedora de Refrescos


Nota: Há uma limonada imperdível na Rua Nova do Almada, no muro do convento que alberga (até quando?) o Tribunal da Boa-Hora.

Passatempo do dia 20 - Respostas

(Respostas válidas... em 1946)

quinta-feira, março 22, 2007

O nosso dia-da-árvore...

Da colectânea «Humor Antigo»

Em Lisboa... mas podia ser no Eden ou no Olimpo!


Mãe-de-Água, Aqueduto, Campolide


Bom motivo agora para visitar o Olimpo aquático: teatro da água, desde hoje, Dia Mundial da Água... Visite aqui a boa razão para ir lá...

Mais um condomínio (?) em palacete protegido ... ali no Torel:




Raras vezes passo nesta que deve ser a rua mais parisiense de Lisboa, daí não me ter apercebido daquilo que um contribuinte para a Lx Deprimente oportunamente refere, e aqui reproduzo:

«(...) caso vergonhoso, (...) na Rua do Torel, para muitos a rua mais bonita de Lisboa, um edifício do Ministério da Educação, onde funcionaram, até há poucos anos atrás, alguns dos seus serviços, está fechado e foi coberto com um plástico vermelho, provavelmente para evitar numerosas infiltrações pelo telhado. Mas há longos meses que essa cobertura está toda rasgada, com os restos caídos sobre a fachada da rua, impedindo até que se passe em parte do passeio. Será esta a passadeira vermelha de (des)honra da ministra? (...)»

Fotos: IF